Domingo, 23 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 2 de setembro de 2018
A direção da Petrobras vai começar a procurar os economistas ligados aos candidatos à Presidência da República. De acordo com fontes ligadas à estatal, o objetivo é mostrar a recuperação financeira quatro anos depois do início da Operação Lava-Jato – a estatal chegou a acumular R$ 500 bilhões em dívidas.
O movimento ocorre depois que a petroleira virou um dos principais assuntos da campanha eleitoral. As propostas dos candidatos vão de privatização de parte da companhia até o controle total pela União.
Depois de ver o acirramento do debate eleitoral em torno da Petrobrás, com propostas que vão de privatização a maior interferência estatal, a direção da empresa decidiu procurar os candidatos para apresentar a eles o retrato da companhia após quatro anos de Lava-Jato.
Os encontros com os assessores econômicos ainda estão sendo marcados e devem acontecer em setembro, antes que o debate fique ainda mais acalorado. Ao menos três dos principais executivos da companhia abriram espaço nas agendas para levar aos presidenciáveis a mensagem de recuperação financeira dos últimos anos.
Com eles, vão as mesmas apresentações que costumam mostrar aos investidores – um conjunto de métricas e estatísticas que demonstram onde a Petrobrás estava no auge da crise, em 2014, e onde está atualmente.
O trabalho é coordenado pelo diretor de Estratégia, Organização e Sistema de Gestão da Petrobrás, Nelson Silva. Com ele, nessa empreitada, estão os diretores Financeiro, Rafael Grisolia, e de Assuntos Corporativos, Eberaldo de Almeida Neto.
A ideia é mostrar à equipe dos candidatos que a dívida da estatal, que já alcançou R$ 500 bilhões em 2015, hoje está em R$ 284 bilhões, e que ativos foram colocados à venda para que, já no início da próxima década, a empresa tenha capacidade de investimento compatível com a das petroleiras concorrentes.
O movimento da Petrobrás ocorre no momento em que os candidatos têm apresentado todo o tipo de proposta em relação à estatal – desde a privatização de atividades relevantes da empresa até a retomada do controle total pela União. Pré-sal e reajuste dos preços dos combustíveis também estão em pauta.
O presidente, Ivan Monteiro, tem afirmado, como um mantra, que a gestão da petroleira é independente e não sofre interferências do governo, ao contrário do que aconteceu no passado. Ministros e indicações políticas não têm mais assento no conselho de administração e decisões de investimento, por exemplo, passaram a ser tomadas coletivamente.
Economistas dizem que, de fato, ficou mais difícil para o governo interferir na gestão da Petrobrás. “A Operação Lava Jato causou um trauma e deixou o mercado mais vigilante e preocupado com a transparência”, diz Gilberto Braga, professor de Economia e Negócios do Ibmec.
Novos episódios de ingerência política, no entanto, não são totalmente descartados. “A União tem poder majoritário entre os acionistas e um novo presidente da República não teria dificuldade de mudar as regras internas mais uma vez”, diz o cientista político Ricardo Ismael.
Especialista em administração pública e ligado à PUCRJ (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro), ele avalia que houve uma mudança na gestão corporativa: “Eu acredito que essa linha de preservação da empresa prossiga no próximo governo”.