Domingo, 23 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 2 de novembro de 2018
Um assessor do presidente turco Recep Tayyip Erdogan disse a um jornal local que o corpo do jornalista Jamal Khashoggi foi esquartejado e dissolvido. Khashoggi, colunista do jornal americano Washington Post e crítico do governo da Arábia Saudita e do príncipe herdeiro Mohammad Bin Salman (MBS), líder de fato do país, desapareceu depois de ter entrado no consulado saudita em Istambul no dia 2 de outubro.
O reino dizia inicialmente que o jornalista havia deixado o consulado; depois, admitiu que ele havia morrido no local, em uma operação clandestina; já na semana passada, o procurador público saudita afirmou que a morte foi premeditada.
Khashoggi foi estrangulado assim que entrou no consulado
O promotor-chefe de Istambul, Irfan Fidan, disse nesta semana que Khashoggi foi estrangulado assim que entrou no consulado e que seu corpo foi depois esquartejado. “De acordo com uma ação premeditada, a vítima Jamal Khashoggi foi estrangulada até a morte assim que ele entrou no Consulado-geral da Arábia Saudita”, afirmou Irfan Fidan
A Turquia tem pressionado para que a Arábia Saudita revele a localização do corpo do jornalista. Mas o assessor presidencial Yasin Aktay disse ao jornal Hurriyet que os restos mortais foram dissolvidos.
Já o presidente Erdogan disse nesta sexta-feira (2) que a ordem para matar Khashoggi veio dos mais altos níveis do governo saudita — o mandatário acrescentou, porém, que não acredita que o rei saudita Salman bin Abdulaziz Al Saud tenha ordenado a morte. A Arábia Saudita vem sofrendo pressão internacional por conta da morte do jornalista, que manchou a imagem de reformista do príncipe Mohammad Bin Salman.
O presidente americano, Donald Trump, já disse que a suposta operação para matar Khashoggi foi “o pior acobertamento da história”, mas também fez comentários relativizando a responsabilidade da Arábia Saudita, que é aliada dos EUA, no caso.
Jamal Khashoggi
O jornalista Jamal Khashoggi desembarcou em Washington (EUA) no outono do ano passado, deixando para trás uma longa lista de problemas. Depois de ter uma carreira bem-sucedida como assessor e porta-voz extra-oficial da família real da Arábia Saudita, ele fora proibido pelo novo príncipe herdeiro de escrever, até mesmo no Twitter. Sua coluna num jornal árabe de propriedade saudita foi cancelada. Seu casamento estava desabando. Para pressioná-lo a parar de criticar os governantes sauditas, seus parentes tinham sido proibidos de viajar.
Então, depois de Khashoggi chegar aos Estados Unidos, uma onda de detenções deixou vários de seus amigos sauditas atrás das grades, e ele decidiu que seria perigoso demais voltar para seu país no futuro próximo, talvez em qualquer momento.
Ele se reinventou nos EUA como crítico, escrevendo colunas para o jornal The Washington Post e acreditando ter encontrado segurança no Ocidente. Mas a proteção do Ocidente só chegava até certo ponto, e isso não demorou a ficar claro.
A possibilidade de o jovem príncipe ter ordenado o ataque a um dissidente cria um problema para o presidente Donald Trump e pode envenenar um relacionamento antes caloroso. Pode convencer os governos e as corporações que fizeram vista grossa para a campanha militar destrutiva lançada pelo príncipe contra o Iêmen, seu sequestro do primeiro-ministro libanês e sua onda de detenções, que Mohammed bin Salman é um autocrata implacável que fará qualquer coisa para afundar seus inimigos.
A ideia de autoexílio no Ocidente não foi facilmente aceita por Khashoggi, de 60 anos, que trabalhara como repórter, comentarista e editor, chegando a tornar-se uma das personalidades mais conhecidas da Arábia Saudita. Ele chegou à atenção internacional pela primeira vez por entrevistar Osama bin Laden, então jovem, e mais tarde tornou-se conhecido como confidente de reis e príncipes.
Sua vida profissional lhe deu ótimos contatos e relações, e esse homem alto, extrovertido e de trato fácil parecia conhecer todo o mundo que tinha tido qualquer coisa a ver com a Arábia Saudita nas últimas três décadas.
Entrevistas com dezenas de pessoas que conheciam Khashoggi e sua relação com a liderança saudita indicam que foi seu gosto por escrever livremente, somado ao trabalho de promoção de reformas políticas a partir do exterior, que o colocou em rota de colisão com o príncipe herdeiro.