Quinta-feira, 29 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 21 de novembro de 2018
Os salários milionários do brasileiro Carlos Ghosn, presidente mundial da aliança Renault-Nissan-Mitsubishi, preso no Japão na segunda sob suspeita de fraude fiscal, suscitam há anos fortes polêmicas na França. Ghosn é presidente dos conselhos de administração da Nissan e da Mitsubishi, e CEO da Renault. Seus ganhos já tiveram várias vezes destaque na imprensa francesa: são alvo de críticas e embates com o Estado — principal acionista.
O brasileiro de 64 anos, nascido em Porto Velho (RO), filho de pai libanês e mãe francesa, é considerado um executivo emblemático da indústria automobilística mundial. Ele ganhou no ano passado, segundo a consultoria Proxinvest, 13 milhões de euros (quase R$ 56 milhões). Desse total, 7,4 milhões de euros (R$ 31,7 milhões) se referem aos seus ganhos no grupo Renault, que ele dirige desde 2005.
Ghosn recebe um fixo e uma parte variável, com bônus e opções de ações, em função do desempenho da companhia. Ele atribui os altos valores à boa performance do grupo.
Nos últimos anos, a remuneração de Ghosn na montadora francesa sempre ultrapassou a faixa dos 7 milhões de euros anuais, segundo a imprensa. Os ganhos totais de 13 milhões de euros em 2017 representam mais que o dobro da renda média dos executivos das principais empresas da bolsa de Paris.
De acordo com os cálculos da revista francesa Capital, Ghosn teria recebido entre 2009 e 2016, incluindo os salários na Nissan, mais de 100 milhões de euros (R$ 428 milhões). Isso sem levar em conta as atuais investigações das autoridades japonesas sobre suspeitas de ocultação de renda no país.
Em abril de 2017, Ghosn deixou o comando operacional da Nissan e permaneceu presidente do conselho de administração da companhia.
Seus ganhos no Japão, criticados pelo governo japonês e questionados atualmente pela Justiça do país, foram reduzidos com o abandono do cargo de CEO da Nissan. Ainda como executivo-chefe da montadora, ele teria recebido 8,8 milhões de euros (quase R$ 38 milhões) no período de abril de 2016 a março de 2017.
Queda de braço
A remuneração de Ghosn provocou várias controvérsias junto ao alto escalão do governo francês. Em 2016, o Estado votou contra sua remuneração referente ao ano anterior na assembleia geral de acionistas. Foi a primeira vez na história das empresas cotadas no índice CAC40 da bolsa de Paris, que reúne os pesos-pesados da economia, que a maioria dos acionistas se opôs ao salário de um CEO.
Mas o conselho de administração do grupo Renault decidiu, mesmo assim, aprovar o salário, desconsiderando o voto dos acionistas, o que provocou a irritação do então ministro da Economia, o atual presidente francês Emmanuel Macron.
Na época, Macron havia ameaçado criar uma regulamentação se o conselho de administração da Renault não reduzisse o salário de Ghosn. Até mesmo o patronato francês, na ocasião, divulgou uma carta pedindo a Ghosn para ser “comedido” com seu salário.
No ano passado, a queda de braço continuou: o Estado francês votou novamente contra a remuneração “excessiva” de Ghosn, que foi aprovada pelos acionistas por pequena margem.
Sob pressão do governo francês, Ghosn acabou aceitando no início de 2018 reduzir em 30% seus ganhos na Renault. Em troca, teve seu mandato no comando do grupo renovado até 2022.