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Por Redação O Sul | 14 de dezembro de 2018
O ex-assessor do deputado estadual Flávio Bolsonaro (PSL), o tenente-coronel da PM (Polícia Militar) do Rio de Janeiro Wellington Servulo Romano da Silva, cujo nome aparece em relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), passou 248 dias em Portugal enquanto trabalhou com o parlamentar na Assembleia Legislativa fluminense.
Procurado pela imprensa, o deputado e senador eleito negou que o oficial morasse no país europeu enquanto estava lotado no Legislativo. De acordo com Flávio, a família do policial tem cidadania portuguesa e se mudou para lá. O parlamentar acrescentou que o tenente-coronel os visitava esporadicamente, e que trabalhou normalmente no gabinete até ser exonerado.
Wellington Sérvulo Romano da Silva é citado no relatório do Coaf como um dos nove assessores e ex-assessores que faziam depósitos na conta do ex-motorista de Flávio Bolsonaro, Fabrício de Queiroz. O documento apontou uma movimentação suspeita de R$ 1,2 milhão em um ano na conta de Fabrício.
Jornalistas foram à casa de Wellington tentar conversar com o oficial, mas, segundo o porteiro do condomínio, o oficial estaria em Portugal. O funcionário acrescentou que há anos (provavelmente desde 2015) o PM ficava mais na Europa do que no Brasil, sempre viajando pela companhia aérea lusitana TAP.
O tenente-coronel foi nomeado em 2015 para trabalhar como assessor de Flávio Bolsonaro na vice-liderança do PP, partido do deputado na época. De acordo com os registros, no dia 24 de abril daquele ano, nove dias depois de ter sido nomeado, Wellington viajou para Portugal, onde ficou 44 dias. Nesse período, recebeu do Legislativo salário e gratificações: total de R$ 5,4 mil por mês.
Ainda em 2015, o oficial viajou outras quatro vezes para Portugal. Naquele ano foram 119 dias fora do Brasil. A última viagem do ano foi em 16 de dezembro. Wellington só voltou ao Brasil em 31 de janeiro de 2016. Em março de 2016, outra viagem. O tenente-coronel saiu dia 9 e voltou 8 de abril. Enquanto estava fora do Brasil, Wellington foi dispensado do trabalho na vice-liderança do PP. O documento que marca a dispensa é do dia 1º de abril.
Nos registros do Parlamento, ele não aparece na lista de pagamentos nos meses de abril e maio. Mas não houve uma demissão, já que no dia 18 de maio Wellington foi nomeado para trabalhar no gabinete de Flávio Bolsonaro. Dois dias depois, ele embarcou com destino a Lisboa. Foram mais 15 dias no Exterior. Em 15 de julho, o oficial viajou de novo. Mais 45 dias longe do Brasil e do trabalho. No dia 1º de setembro de 2016, o tenente-coronel foi dispensado mais uma vez do cargo, e não voltou mais a trabalhar com o deputado Flávio Bolsonaro.
Sem licença
A Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro informou que durante todo o período em que Wellington esteve na Casa, nunca tirou licença. Em um ano e quatro meses em que trabalhou para Flávio, Wellington ficou fora do país por 248 dias – a metade do período.
Em uma rede social, a mulher de Wellington diz que a cidade onde mora atualmente é Aveiro, em Portugal. Oficialmente, ele retornou aos quadros da PM só em 10 de abril deste ano. Mas, logo em seguida, pediu e recebeu uma licença especial da corporação. Questionada sobre o local de trabalho do tenente-coronel depois que deixou a Assembleia até receber a licença especial, a Polícia Militar não se manifestou.
Nos registros do governo do Estado, Wellington continua a receber como oficial R$ 25 mil. Só que que ele já estava em Portugal, de novo. Ele só voltou no dia 10 de setembro. Em seguida, ficou nove dias no Rio e embarcou de novo para Lisboa.
Além de Wellington, outros 74 nomes de funcionários e ex-funcionários do Legislativo fluminense constam em um relatório do Coaf anexado à denúncia do Ministério Público Federal, que deu respaldo à Operação Furna da Onça. O documento aponta movimentações suspeitas, mas não necessariamente ilegais. No total, houve operações que chegaram a R$ 207 milhões. Os nomes que constam no documento são de pessoas que trabalham ou trabalharam em pelo menos 21 gabinetes de deputados estaduais, de 14 partidos.