Sexta-feira, 09 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 17 de junho de 2019
A ida do ministro da Justiça, Sérgio Moro, à CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado nesta quarta-feira (19) foi resultado de um cálculo do desgaste a que o ex-juiz da Lava-Jato seria submetido no Congresso. Moro e outros auxiliares do presidente Jair Bolsonaro entenderam que ir espontaneamente ao Legislativo para explicar a troca de mensagens com o procurador Deltan Dallagnol era uma jogada relativamente segura, com o objetivo de frear eventual CPI com foco no ministro.
Nas conversas divulgadas pelo site The Intercept Brasil, o então juiz da Lava-Jato troca colaborações com Dallagnol, coordenador da força-tarefa. Segundo o site, as mensagens foram enviadas para o portal por fonte anônima e se referem ao período de 2015 a 2018.
No dia 10 deste mês, um dia após a divulgação das primeiras conversas, o senador Angelo Coronel (PSD-BA) protocolou na CCJ um requerimento para convocar o ministro. O congressista começou também a coletar assinaturas para criar uma CPI.
Nas redes sociais, parlamentares cobravam a volta da tramitação de projetos que combatem o abuso de autoridade e apontavam os reflexos que a crise teria no calendário do pacote anticrime apadrinhado por Moro.
Por volta das 10h do dia 11, parlamentares e ministros, inclusive o próprio Moro, se encontraram na cerimônia de comemoração do 154º aniversário da batalha naval do Riachuelo. Durante o evento, o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, foi avisado da apresentação dos requerimentos pela presidente da CCJ, senadora Simone Tebet (MDB-MS). Assim, teve início o plano do governo federal para conter a crise.
Apesar da tensão, Moro preferiu manter os compromissos agendados e foi ao Senado naquele dia almoçar com parlamentares de DEM, PL (ex-PR) e PSC. Chegou cercado por seguranças e evitou os jornalistas que o aguardavam. Entrou na sala onde era esperado e quis começar a conversa dando a sua versão sobre os conteúdos vazados, mas foi interrompido por Wellington Fagundes (PL-MT), coordenador do bloco Vanguarda, que reúne os senadores das três siglas.
Como o encontro, marcado 15 dias antes, era de relacionamento, Fagundes não quis polemizar de partida. O assunto voltou somente no fim do papo, trazido pelo governador Ronaldo Caiado (DEM-GO) e por um debate entre os senadores Juíza Selma (PSL-MT) e Marcos Rogério (DEM-RO).
Mas Moro não chegou a mencionar a carta assinada pelo líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), que seria divulgada horas depois pelo presidente da Casa, Davi Alcolumbre (DEM-AP).
“Comunico a vossa excelência que fui informado pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, de sua disponibilidade para prestar os esclarecimentos à CCJ do Senado Federal sobre notícias amplamente veiculadas na imprensa relacionadas à Operação Lava-Jato”, dizia trecho da carta lida por Davi durante sessão do Congresso.
Para os congressistas, a conta do Planalto é óbvia: ao se oferecer para ir ao Senado, Moro livra-se do constrangimento de ser convocado, vai para um ambiente relativamente controlado e menos hostil do que a Câmara e esfria os ânimos da criação da CPI.