Quinta-feira, 16 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 23 de julho de 2019
A PF (Polícia Federal) prendeu nesta nesta terça-feira (23) quatro pessoas sob suspeita de hackear telefones de autoridades, incluindo o ministro da Justiça, Sérgio Moro, e o procurador Deltan Dallagnol, chefe da força-tarefa da Operação Lava-Jato em Curitiba.
A PF não divulgou detalhes da investigação.
Foram cumpridas 11 ordens judiciais, das quais 7 de busca e apreensão e 4 de prisão temporária nas cidades de São Paulo, Araraquara (SP) e Ribeirão Preto (SP). Foram presos três homens e uma mulher, depois transferidos para Brasília, onde prestarão depoimento à Polícia Federal.
A operação se chama Spoofing, termo que, segundo a PF, designa “um tipo de falsificação tecnológica que procura enganar uma rede ou uma pessoa fazendo-a acreditar que a fonte de uma informação é confiável quando, na realidade, não é”.
A Folha apurou que a PF chegou aos suspeitos por meio da perícia criminal federal, que conseguiu rastrear os sinais do ataque aos telefones. Para investigadores, o grau de capacidade técnica dos hackers não era alto.
A investigação, segundo a reportagem apurou, ainda não conseguiu estabelecer com exatidão se o grupo investigado em São Paulo tem ligação com o pacote de mensagens privadas dos procuradores da Lava-Jato obtido pelo site The Intercept Brasil.
Uma possível relação entre os dois assuntos não foi confirmada oficialmente pela PF. Segundo o órgão, “as investigações seguem para que sejam apuradas todas as circunstâncias dos crimes praticados”.
O advogado Ariovaldo Moreira, que defende Gustavo Henrique Elias Santos, um dos presos em Araraquara, disse desconhecer o envolvimento de seu cliente com atividades de hackers. Segundo o defensor, Santos trabalha como DJ. O suspeito foi condenado pelo Tribunal de Justiça de SP por porte ilegal de arma.
As ordens judiciais foram expedidas pelo juiz federal de Brasília Vallisney de Souza Oliveira. O delegado da PF à frente do caso é Luís Flávio Zampronha, que em 2005 e 2006 presidiu o inquérito policial que apurou o escândalo do mensalão.
O inquérito em curso foi aberto em Brasília para apurar, inicialmente, o ataque a aparelhos de Moro, do juiz federal Abel Gomes, relator da Lava-Jato no TRF-2 (Tribunal Regional Federal da 2ª Região), do juiz federal no Rio Flávio Lucas e dos delegados da PF em São Paulo Rafael Fernandes e Flávio Reis.
Segundo investigadores, a apuração mostrou que o celular de Deltan Dallagnol também foi alvo do grupo. O caso de autoridades da Lava-Jato em Curitiba está sendo tratado em inquérito aberto pela Polícia Federal no Paraná.
Em junho, Moro esteve na Comissão de Constituição e Justiça do Senado para dar explicações sobre sua atuação como juiz da Lava-Jato.
Mensagens reveladas pelo site Intercept em 9 de junho apontam colaboração entre o então juiz e Deltan quando ambos atuavam em Curitiba. Em 23 de junho, a Folha começou a publicar reportagens que exploram o material obtido pelo site.
Durante a sessão no Senado, Moro deu detalhes do ataque hacker de que foi vítima. Afirmou que, em 4 de junho, por volta das 18h, seu próprio número o telefonou três vezes
Segundo a Polícia Federal, os suspeitos não roubaram dados do aparelho do ministro — apenas o procurador Deltan Dallagnol teve informações captadas durante o ataque que sofreu.
Moro afirmou ainda que deixou de usar o Telegram, aplicativo de onde as mensagens vazadas foram extraídas, em 2017. Após notícias de ataques hackers nas eleições dos Estados Unidos, ele começou a desconfiar da segurança do aplicativo, que tem origem russa.
O ministro diz que apagou o Telegram de seu aparelho e que não tem mais os arquivos das conversas. Em junho, a força-tarefa da Lava-Jato no Paraná divulgou nota afirmando que os procuradores da operação desativaram suas contas no aplicativo e excluíram os históricos de conversas após sofrerem ataques hackers neste ano.
Segundo o Telegram, se o usuário não acessar o aplicativo por seis meses, a conta é destruída automaticamente. O usuário pode ainda alterar em configurações esse prazo para de um mês a no máximo um ano.
A empresa também afirma que, caso um usuário tenha apagado a conta no aplicativo, todos os dados, como mensagens, grupos e contatos associados, são apagados do sistema. Quem volta a utilizá-lo aparece como um novo usuário, sem histórico de mensagens ou grupos de conversa de volta.