Terça-feira, 06 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 10 de setembro de 2019
Agentes da Polícia Federal cumpriram, na manhã desta terça-feira (10), 11 mandados de busca e apreensão e um mandado de prisão preventiva (tempo indeterminado) na 65ª Fase da Lava-Jato, denominada Galeria, em cooperação com o Ministério Público Federal (MPF). Entre os presos está Márcio Lobão, filho do ex-ministro Edison Lobão e que foi preso em seu apartamento, na Zona Sul do Rio.
Cerca de 70 Policiais Federais e 18 Auditores da Receita Federal participaram da ação nas cidades de São Paulo, Rio e Brasília. Os crimes investigados são lavagem de dinheiro e corrupção e estão relacionados ao pagamento de propina à Transpetro, que é subsidiária da Petrobras, e à Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Pará.
As investigações apontam que, ao menos entre 2008 e 2014, o ex-senador e ex-ministro, e seu filho solicitaram e receberam propinas dos Grupos Estre e Odebrecht da ordem de R$ 50 milhões. Evidências dão conta de que os atos de lavagem se estenderam até 2019. A prisão de Márcio tem o objetivo de aprofundar possíveis operações de lavagem de dinheiro capitaneadas por ele.
Em julho, o ex-ministro, o filho e a nora Marta Lobão viraram réus na Lava-Jato de Curitiba por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Eles são acusados de envolvimento em esquema de corrupção na construção da Usina de Belo Monte. De acordo com a denúncia da força-tarefa do Paraná, foram praticados crimes de corrupção e pagamentos ilícitos que chegam a R$ 2, 8 milhões, entre 2011 e 2014, por meio do Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht, mais conhecido como departamento de propina.
Na época dos fatos, Lobão ocupava o cargo de ministro das Minas e Energia no governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) .
De acordo com o MPF, a propina para o ex-ministro e para o filho foi repassada pelo Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht, em cinco entregas no escritório de advocacia que a nora mantinha com a família.
Ainda de acordo com os procuradores da Lava-Jato, nas planilhas de propina da empreiteira Lobão era conhecido como “esquálido”.
Obras de arte
O esquema investigado inclui aquisição e posterior venda de obras de arte com valores sobrevalorizados, simulação de operações de venda de imóvel, simulação de empréstimo com familiar, interposição de terceiros em operações de compra e venda de obras de arte – por isso o nome da operação Galeria – e movimentação de valores milionários em contas abertas em nome de empresas offshore no exterior. No período das transações foi possível verificar um incremento em seu patrimônio de mais de R$ 30 milhões.
Citada pelo MPF na operação Galeria, desencadeada nesta terça-feira, Almeida & Dale está entre as maiores galerias paulistanas e as principais do país. A empresa dos sócios Antonio Almeida e Carlos Dale começou como um negócio familiar em 1996, e se expandiu de forma rápida a partir dos anos 2000, ao conquistar clientes como o megacolecionador cearense Ayrton Queiroz. No início deste ano, o grupo anunciou uma fusão com outra gigante do mercado paulista, a Leme, que passou a se chamar Leme/AD.
Representando artistas contemporâneos e também atuando no mercado secundário (de revenda de obras, geralmente de artistas internacionalmente consagrados, que alcançam preços mais altos), a Almeida & Dale é presença constante em feiras de arte no Brasil e no exterior, como Frieze (Nova York) e a Art Basel Miami. Na ArtRio do ano passado, a obra mais cara do evento estava exposta no estande da galeria: “Bumba meu boi”, de Di Cavalcanti, tinha valor superior a R$ 20 milhões. Neste ano, de acordo com a plataforma de venda online da feira, a Almeida & Dale também coloca à venda duas obras com valor superior a R$ 1 milhão: um Antonio Bandeira (R$ 5 milhões) e uma Tarsila do Amaral (R$ 4,5 milhões).
Neste ano, a Almeida & Dale promoveu uma exposição itinerante de Adriana Varejão, “Por uma retórica canibal”, que já passou por Salvador (BA) e Recife (PE). Segundo reportagem publicada no mês passado pela “Folha de S. Paulo”, que citava a formação de um conglomerado capitaneado pela empresa, ela também estaria associada a parte do acervo da galeria Mendes Wood DM, ao portal de vendas online Blombô e à editora Capivara.
Em nota, o advogado Ralph Tórtima Stettinger Filho, representante legal da Galeria de Arte Almeida e Dale, reafirma o compromisso da empresa em colaborar com as investigações. A defesa diz que a Galeria “jamais compactuou com qualquer conduta ilícita e sempre adotou política de absoluta transparência em suas transações envolvendo o mercado de obras de arte”.