Sábado, 04 de maio de 2024
Por Redação O Sul | 2 de novembro de 2019
As autoridades russas começaram a aplicar nesta sexta-feira (1º) uma polêmica lei para criar uma “internet soberana”, isolada dos grandes servidores mundiais, e criar filtros de conteúdo.A iniciativa foi denunciada por defensores da liberdade de expressão como um controle excessivo. O texto prevê a criação de uma infraestrutura que permita garantir o funcionamento dos recursos da internet russa caso as operadoras do país não consigam conectar-se a servidores estrangeiros.
Os provedores de acesso da Rússia também deverão garantir que suas redes tenham meios para permitir um controle centralizado do tráfego, sob alegação de que isso é necessário para conseguir responder a eventuais ameaças. Na prática, significa maior poder ao governo para barrar o acesso a sites e filtrar o conteúdo presente neles. Outra questão é que o governo pretende limitar o acesso a páginas estrangeiras, direcionando os usuários a versões locais dos serviços.
No entanto, há poucos detalhes divulgados sobre como as coisas passarão a funcionar na prática. Especialistas apontam que não está claro como essa lei será implantada e se ela será efetiva, pois envolve altos custos e um desafio tecnológico. Uma das questões, segundo o site Mashable, é que a internet na Rússia foi criada de forma conectada ao resto do mundo, ao contrário da China, que desde o início expandiu a rede pensando em um modelo nacional fechado.
A Rússia também não possui um ecossistema autossuficiente de sites e serviços próprios, como a China, onde o comércio eletrônico, as redes sociais e aplicativos de mensagem são dominados por gigantes locais, como Alibaba e Weibo. A lei tem sido criticada como uma tentativa de controlar o conteúdo na internet, além de pretender isolar de maneira progressiva a internet russa, um dos últimos espaços de liberdade para a oposição ao governo de Vladimir Putin.
“O governo pode agora censurar de maneira direta o conteúdo ou, inclusive, transformar a internet russa em um sistema fechado sem informar ao público sobre o que fez ou por quê”, denunciou a ONG Human Rights Watch. A organização considera que o texto, que provocou manifestações em março, “coloca em perigo a liberdade de expressão e informação online” e abre o caminho para uma vigilância em massa.
Inspiração na China
A Rússia tem um modelo bem-sucedido para se espelhar: a China. Há décadas que o país asiático desenvolve um sistema complexo de censura na internet. O relatório Freedom on the Net (liberdade na rede) descreveu o país como o que mais abusou da liberdade digital em 2018. A China tem plataformas próprias, equivalentes ao YouTube, Whatsapp e Twitter, mas nas quais qualquer conteúdo crítico é bloqueado.
Jovens chineses que nunca estiveram no exterior conhecem as grandes plataformas americanas só de ouvir falar. Isso permite que o Partido Comunista controle de perto as informações que o chineses recebem: empresas locais precisam se ater bem mais a leis e requisitos do que plataformas internacionais.
O aumento do controle da rede pode ser observador em todo o mundo. O relatório Freedom on the Net concluiu que 2018 foi o oitavo ano consecutivo de diminuição da liberdade mundial na Internet. Alguns países, como a China e a Rússia, contam com sua própria intranet. Já na Coreia do Norte, o isolamento é extremo. Lá a internet consiste apenas de alguns sites norte-coreanos.