Domingo, 23 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 3 de dezembro de 2019
A felicidade pode ser um estado de espírito. Pode estar numa boa música daquele CD favorito ou até numa colherada de um bom brigadeiro. A felicidade pode ser e se transformar em diversas coisas. Mas afinal… podemos definir com exatidão um sentimento tão complexo, individual e abstrato? Mesmo sem determinar com formas e palavras o que é a felicidade, podemos dizer que ela pode e precisa ser trabalhada diariamente.
“A felicidade não é um estado contínuo. Ninguém é feliz o tempo inteiro, pois a tristeza faz parte, por isso precisamos trabalhar hábitos diários”, comenta o professor do Centro de Biociências da Universidade Federal de Pernambuco e coordenador do Núcleo de Saúde do Estudante, Bruno Severo. “Um caminho é potencializar as energias positivas, e não esquecer daquilo de bom que já foi feito”, completa.
O professor leciona semanalmente uma disciplina eletiva chamada “Felicidade”, pertencente ao Departamento de Biomedicina da UFPE, mas que é aberta a toda a comunidade universitária. Nela, são abordados diversos temas, desde como a atividade física ajuda a impulsionar sensações positivas até práticas para abraçar pessoas na rua e desenvolvimento da comunicação social.
“Técnicas de meditação para diminuir a ansiedade, agradecer sempre, relembrar as coisas que deram certo e não focar naquilo que está dando errado são algumas das maneiras que fazem o indivíduo potencializar aquilo que já tem de bom”, indica Severo.
A disciplina é inspirada pelo curso já aplicado na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. A prática gerou o livro “O Jeito Harvard de Ser Feliz”, que procura discutir a felicidade e ensinar o leitor a colher os frutos de uma atitude mental mais positiva. No Brasil, além da UFPE, a Universidade de Brasília (UnB) e a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) também abordam a temática no meio acadêmico.
De acordo com uma pesquisa recente do Instituto Ipsos, no Brasil, 61% dos entrevistados consideram-se muito felizes ou felizes, representando uma queda de 12 pontos percentuais em relação à última edição, feita em 2018, quando o resultado foi de 73%. No mundo, o índice de felicidade também caiu de 70% para 64%.
A pesquisa “Global Happiness Study” (Estudo Global da Felicidade, em português, foi divulgada neste ano, e feita on-line com 20,3 mil entrevistados em 28 países, entre 24 de maio e 7 de junho de 2019. Ao mesmo tempo em que os “níveis” de felicidade diminuem, a busca por auxílio e respostas sobre o que é felicidade aumentam.
Em tempos que doenças e transtornos como ansiedade, depressão e síndrome do pânico são temas mais corriqueiros. No Brasil, por exemplo, de acordo com dados da Organização Mundial da Saúde, 18,6 milhões de brasileiros (9,3% da população) convivem com o transtorno de ansiedade. Acompanhando as dinâmicas da modernidade, o estudo sobre a felicidade e as tentativas de melhorar a vida cotidiana aumentam.
“Um jeito legal de tentar encontrar a felicidade além do clichê é o modo de construir uma existência criativa. Não realizando exatamente arte e cultura, mas sim aquilo que lhe faz perceber que está vivo, encontrando gosto pela vida e pelas coisas para ficar bem”, comenta a psicanalista e psicóloga do Centro de Pesquisa em Psicanálise e Linguagem (CPPL) Rafaela Paixão.
No campo da psicologia, a ideia não é diferente. A construção da felicidade não é definitiva nem é um estado linear, mas sim algo perpassado pelas atitudes diárias. “Sem dúvida é algo que se constrói no dia a dia, passando nas relações interpessoais, na afetividade, nas experiências de amizades, amorosas, familiares, estes vínculos que são prazerosas são contidos não só em experiências de conquista, mas também resultado daquilo que a gente lida”, explica Rafaela.
Pequenas mudanças alegres
O caminho para a felicidade pode não ser único, uniforme, mas também não é inatingível. Um bom começo indicado por especialistas e estudiosos é, no dia-a-dia, mudar em pequenos atos. Desde o agradecimento sobre pequenos gestos, como poder beber água, andar até praticar gestos bondosos para pessoas próximas, a dica é não se cobrar tanto, buscando o bem-estar próprio e do outro.
Para o estudante de Biomedicina Gabriel Dornelas, 20 anos, as pequenas mudanças na atitude cotidiana acabaram rendendo bons frutos e uma vida mais leve. “Consegui terminar o período com a cabeça erguida e aprendi a não ignorar as coisas boas. Acabou me ajudando também em outras áreas”, fala.
Dornelas foi aluno da disciplina de “Felicidade”, ministrada pelo professor Bruno Severo na Universidade Federal de Pernambuco. Ele conta que ter uma maior noção sobre as práticas diárias e boas atitudes auxiliou também na potencialização da felicidade. “Para mim, felicidade é sinônimo de empatia e do sorriso dos outros. E é algo necessário para que não caiamos em poços escuros”, explica Dornelas, que afirmou ter melhorado na comunicação com a família e amigos.
Redes sociais
Um dos fatores mais debatidos atualmente sobre a influência na busca pela felicidade são as redes sociais. Com a evolução dos smartphones, que representam 230 mi de unidades em uso no Brasil, de acordo com a Fundação Getúlio Vargas. Isso quer dizer que o País tem, em 2019, dois dispositivos digitais por habitante, incluindo smartphones, computadores, notebooks e tablets. No ano, o País terá 420 milhões de aparelhos digitais ativos.
Mais atividade, mais conteúdo e uma maior comparação nas redes sociais. Ter aquela foto com menos curtidas que alguém ou um vídeo que não teve a repercussão esperada passou a ser um problema. “Podemos pensar na forma que o funcionamento da virtualidade pode favorecer a este tipo de comportamento, vivendo mais angústias do que é real ou desejado ou imaginado”, diz a especialista Rafaela Paixão. “Nem sempre uma foto expressa o sentimento de uma pessoa”, completa.