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Brasil É possível manipular a inflação? Conheça alguns casos em que o índice foi questionado

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Ministro na ditatura militar (1964-1985) Delfim Netto (E) recorria a alguns "truques". (Foto: Reprodução)

O relatório do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) sobre a inflação oficial de 2019, medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), aponta que a alta de preços foi de 4,31% no ano passado. Esse resultado ficou acima da meta definida pelo governo federal, mas dentro da margem de tolerância de 1,5 ponto percentual – ou seja, podendo variar entre 2,75% e 5,75%.

Cada vez que esse tipo de informação vem a público, é comum ouvir consumidores reclamarem que o peso dos preços sentido no bolso é bem maior que o verificado pelo índice oficial. A queixa ganha força quando a inflação tem a sua aceleração puxada por um produto popular, a exemplo da carne, como aconteceu no final do ano passado. Mas isso seria um sinal de que há fraude? Como isso seria possível?

Hoje não há indícios de fraude nos índices oficiais de inflação brasileiros, sendo considerados de confiança por especialistas e pelo mercado. Há explicações técnicas para essa diferença entre o que é sentido pela população e o que é medido pelo IBGE. Isso acontece no mundo todo e faz parte do próprio método de criar um índice.

Não é possível que um produto que tenha subido 50%, por exemplo, determine que a inflação de todos os demais produtos seja de 50%. E também não se trata de uma média simples, e sim de uma média ponderada, que leva em conta o peso de cada item no bolso das pessoas. No passado, porém, intervenções diretas no índice já aconteceram no Brasil, caracterizando uma manipulação. Relembre alguns casos, a seguir.

Produto X preço

Uma dessas situações foi durante o governo do ditador militar Emílio Médici (1969-1972), conforme menciona o livro “Muito Além dos Índices”, de Salomão Quadros. “No vale-tudo antiinflacionário, o então ministro da Fazenda, Delfim Netto, apelava para truques como abastecer a cidade do Rio de Janeiro, onde eram coletados os preços dos gêneros alimentícios para o cálculo do índice oficial”, relembrou o autor.

Por exemplo, se uma seca afetava a produção de tomate, encarecendo o valor, o governo mandaria caminhões do produto para o Rio, aumentando a oferta e diminuindo o preço no local, o que impactaria o índice, que na época era medido pela FGV (Fundação Getulio Vargas). Anos depois, Delfim afirmaria que não houve manipulação de preços, mas “controle de oferta”, de forma legítima.

“Outra cartada do ministro era oferecer crédito em troca de menores reajustes de preços. Em 1973, com tais artifícios, a inflação foi de 13,7%”, conta o autor do livro. “No ano seguinte, Mario Henrique Simonsen assumiu a pasta e calculou que o índice seria de 26,6% sem tais recursos.”

Expurgo

Nos anos 1980, outra técnica controversa, o “expurgo”, foi aplicada sobre os índices de inflação, Salomão Quadros conta que, em 1983, o Ministério da Fazenda retirou subsídios que barateavam o trigo e derivados de petróleo. Além disso, secas no Sul e enchentes no Nordeste afetaram a safra daquele ano. Isso gerou alta nos preços, e impactaria a inflação, que já estava alta, acima de 100% ao ano.

Responsável pelo índice oficial de inflação naquela época, a FGV calculou o impacto desses efeitos nos preços e, durante três meses, publicou duas versões dos resultados, uma delas chamada de “índices ajustados”, basicamente eliminando o trigo do cálculo. O objetivo dos “expurgos” era evitar que a inflação aumentasse ainda mais, já que os salários seriam reajustados pelo índice, e essa alta também levaria a um impacto nos preços.

E hoje?

Esses dois tipos de intervenção no índice oficial de inflação não são feitos atualmente, afirma Pedro Kislanov, gerente do IPCA no IBGE. O processo de apuração do índice oficial é muito complexo, segundo ele, envolvendo muitas pessoas e coleta de mais de 500 mil preços em 30 mil locais e 16 estados, seguindo práticas de manuais internacionais, como o do FMI (Fundo Monetário Internacional).

Por causa dessa descentralização das medições, a intervenção direta no abastecimento de um ponto específico, como aconteceu nos anos 1970, não surtiria efeito, segundo Kislanov. Também não há possibilidade de que um item seja retirado da cesta de produtos que compõem o índice quando há uma alta pontual.

Uma manipulação direta do governo na inflação hoje em dia também chamaria muita atenção, já que, além do IBGE, outras instituições, inclusive privadas, como a FGV, fazem seus próprios índices e medições. Há diferenças nos números apurados em cada um, por causa das metodologias aplicadas, mas em geral eles apontam a mesma tendência. Um resultado do IPCA que destoasse muito dos demais chamaria atenção dos especialistas e geraria críticas.

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