Quarta-feira, 26 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 1 de fevereiro de 2020
Não importa que tenhamos memórias falsas, diz o britânico Martin Conway, o importante é que elas se encaixem com a ideia que temos sobre nós. A chamada “memória autobiográfica” é o que esse professor de psicologia cognitiva da City University of London, no Reino Unido, e diretor do Centro de Memória e Direito da mesma universidade vem estudando há 40 anos.
Na visão dele, todos criamos inadvertidamente recordações que não correspondem à realidade, mas que se adequam à história que construímos sobre nossa vida e personalidade. “Memórias autobiográficas, de períodos mais longos, de meses, anos ou décadas, servem mais para nos ajudar como indivíduos, para nos definir”, diz ele em entrevista à BBC News Brasil.
“Então não é particularmente importante que a memória seja bastante precisa. O que importa é que seja consistente, que se encaixe com a sua vida, com o que você constrói sobre você mesmo. E esse processo pode ser inconsciente.”
Conway também é contrário às críticas que associam novas tecnologias a uma espécie de “terceirização da memória”. “Sempre soubemos que nossa cognição é imperfeita, e sempre buscamos maneiras para suplementá-la. Pessoalmente, eu acho bom. A tecnologia expande nossa memória, não o contrário”, afirma.
Ele diz que a memória não é um músculo que pode ser exercitado. “Aprender um instrumento musical, uma nova língua, uma nova área de conhecimento, tudo isso é bom. Vai te fazer mais inteligente e esperto. Mas não vai fazer sua memória melhorar”, afirma. A melhor coisa para a memória, diz ele, é socializar e conviver com amigos e familiares — algo que promove aprendizados e que, segundo ele, faz bem para a memória e para a mente como um todo.
1) A tecnologia de hoje em dia afeta nossa memória? Estamos terceirizando nossa memória para aplicativos e aparelhos?
Temos que lembrar que a humanidade sempre suplementou sua cognição com a tecnologia. Escrever é provavelmente nossa maior tecnologia. Sempre soubemos que nossa cognição é imperfeita, e sempre buscamos maneiras para suplementá-la. Pessoalmente, eu acho bom. Eu acho incrível. A tecnologia expande nossa memória, não o contrário.
2) Podemos exercitar nossa memória para tentar melhorá-la?
Não. A memória não é um músculo. Aprender um instrumento musical, uma nova língua, uma nova área de conhecimento, tudo isso é bom. Vai te fazer mais inteligente e esperto. Pode ser bom para sua “memória de trabalho”, que é sua habilidade de brevemente manipular informação, mas não vai fazer sua memória melhorar. Vai fazer todo o conjunto funcionar bem.
Se você desistir e parar de aprender coisas novas, as coisas não irão bem. Uma das coisas que fazem uma diferença enorme é o quão bem socializamos com os outros. Fomos evoluídos para socializar, e quanto mais o fazemos, melhor nosso cérebro trabalha. Sair com amigos e familiares e interagir é a melhor coisa que você pode fazer pela sua mente e para sua memória. Socializando, você aprende coisas novas o tempo todo, aprende sobre pessoas, sobre si próprio. Socializar é um aprendizado gigante. E pessoas que permanecem dentro de seus grupos sociais sofrem menos declínio cognitivo, e isso inclui comprometer menos a memória.
3) O que o Sr. diria para pessoas mais velhas sobre a memória?
Permaneçam engajados com seus círculos sociais, seus netos, amigos, colegas. É a coisa que mais pode fazer a diferença. Não há dúvidas de que a memória deteriora. Manter todo o sistema mental vivo trará benefícios. Socializar é bom para a memória, para o pensamento e a imaginação. É bom para tudo.