Terça-feira, 07 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 7 de março de 2020
A apresentadora Xuxa Meneghel, de 56 anos, diz não vê razão para o Dia Internacional da Mulher, celebrado neste domingo (8). Para ela, todos os dias são das mulheres, que ainda enfrentam muitas barreiras em um mundo machista.
Xuxa afirma admirar as feministas que romperam alguns desses muros ao longo da história e aplaude as mulheres de hoje que escolhem por não se calar e agir diante das desigualdades.
A própria apresentadora decidiu agir quando revelou, em entrevista ao Fantástico em 2012, que foi vítima de abuso sexual na infância por parte de vários homens, incluindo o namorado de sua avó e o melhor amigo de seu pai. À época, o depoimento causou comoção.
“A primeira coisa que passa na cabeça da gente quando sofremos algum assédio é se calar. Depois a gente engole, mas não consegue digerir e poucas pessoas conseguem vomitar. Eu sou uma das pessoas que conseguiu vomitar, colocar para fora. E isso fez com que eu pudesse me ouvir, quase como um grito de socorro”, disse Xuxa, em entrevista.
Ela atribui o silêncio das vítimas de assédio e abuso a uma sociedade machista, que permite ao homem fazer o que quiser. À mulher, resta o questionamento sobre o que fez para merecer a agressão. “Nada, nada, nada justifica. […] Eu me perguntei muito o que eu fiz para merecer aquilo. Hoje eu sei que a gente não precisa fazer isso.”
1) É importante ter um dia dedicado à mulher?
Acho que não. Nós mulheres já sabemos que todos os dias são nossos. Também acho errado essa coisa de Dia da Criança, Dia da Mulher, Dia do Amor, Dia das Mães, Dia dos Pais. Quando a gente gosta de alguém, quer homenagear alguém, não precisa de um dia.
2) O foco do Dia Internacional da Mulher é a igualdade de direitos. O que já melhorou? E o que piorou?
Já melhorou alguma coisa, mas há muito ainda para se alcançar. Se você parar para pensar que a mulher antigamente não podia sentar à mesa, não podia falar, não podia votar, não podia trabalhar, há muitas coisas que as pessoas conquistaram. Eu bato palma para as feministas, porque elas enfrentaram o mundo para a gente ter hoje o espaço que temos.
Agora, tem muita coisa para melhorar? Óbvio que tem. Começando pelos salários de muitas mulheres, começando pelo respeito que as pessoas não têm, começando por alguns trabalhos que as mulheres não podem ter ou exercer, porque acham que elas não podem. Eu acho uma bobeira essa separação. Todas nós, mulheres que vivem e mulheres que ainda vão vir ao mundo, temos que nos curvar e agradecer a essas pessoas que abriram, que arrombaram, derrubaram essas barreiras, esses muros, essas portas, esses preconceitos. Mas ainda tem muitos a derrubar.
3) Você foi vítima de abuso sexual na infância. Como lidou com isso na época? Agiria de outra forma hoje?
Claro que hoje eu agiria de outra forma. Com a experiência e minha maturidade eu com certeza agiria de outra forma. A primeira coisa que passa na cabeça da gente, quando sofremos algum assédio, é se calar. Depois a gente engole, mas não consegue digerir e poucas pessoas conseguem vomitar. Eu sou uma das pessoas que conseguiu vomitar, colocar para fora. E isso fez com que eu pudesse me ouvir, quase como um grito de socorro.
Mas tem muitas mulheres que não conseguem fazer isso. E acho que é por causa da educação que a gente recebe, porque o mundo é muito machista, porque o homem pode tudo e a mulher, não. Eu ouço: “o que ela fez para merecer isso?”. Ninguém merece passar por isso, ou seja, nada que você venha a fazer justifica um assédio sexual ou um abuso ou uma falta de respeito. Não importa a roupa que você esteja usando, não importa o que você tenha feito ou falado. Nada, nada, nada justifica. Quando ouço essas coisas me sobe o sangue até mais do que a situação do assédio em si. Talvez seja porque eu passei por isso e não fiz nada. E me perguntei muito o que eu fiz para merecer aquilo. Hoje eu sei que a gente não precisa fazer isso.
4) Qual a importância de movimentos como #MeToo e #Time’sUp, que chamaram a atenção para o assédio sexual dentro e fora do ambiente de trabalho?
Não sei se sou a favor ou contra. Porque eu vejo as pessoas usando uma camiseta tipo “não à pedofilia”. Quem é sim para a pedofilia? “Não à violência”, quem é sim à violência? Quando você está expondo sua opinião sobre uma polêmica, tudo bem, mas isso não é polêmico, é um fato. As pessoas não têm que agredir as outras, as pessoas não têm que faltar com respeito com as outras, as pessoas não tem que assediar as outras, as pessoas não têm que abusar das outras. Mas é uma maneira de a gente poder conversar, e sou a favor disso. A gente buscar entender o que está acontecendo, a gente se informar, isso é muito importante.