Quinta-feira, 08 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 16 de março de 2018
Fernanda Chaves, assessora da vereadora Marielle Franco, ajudava a parlamentar a revisar um texto quando ouviu o barulho dos tiros sendo disparados. Ela ainda conseguiu tirar a perna do motorista Anderson Pedro Gomes do acelerador, desligar o carro e se jogar para fora do veículo.
As informações foram publicadas pela coluna da jornalista Mônica Bergamo, do jornal “Folha de S.Paulo”. Segundo o texto, Fernanda Chaves ficou agachada e só conseguiu ligar para o marido, que acionou o socorro. Relatos dão conta de que a assessora tremia sem parar e foi atingida apenas por estilhaços. Ela foi liberada do hospital, mas ainda está em estado de choque.
A Polícia Civil do Rio de Janeiro disse na quinta-feira (15) que acredita que os assassinos da vereadora Marielle Franco (PSOL) seguiram seu carro desde o momento que ela saiu do evento que estava participando na Lapa, no Centro da cidade, até o local onde foram efetuados os disparos.
Os disparos foram efetuados a uma distância de dois metros do carro onde estavam as vítimas. Segundo a polícia, um carro modelo Chevrolet Cobalt, na cor prata, emparelhou ao lado do veículo e os tiros entraram pela parte traseira do lado do carona, onde Marielle estava, e três disparos acabaram atingindo o motorista. A Divisão de Homicídios mostra que o atirador seria experiente e sabia o que estava fazendo. Os criminosos fugiram sem levar nada.
A vereadora foi assassinada “durante um episódio com claros sinais mafiosos”, disse o jornalista argentino Darío Pignotti. Segundo ele, as consequências podem ser nefastas para o presidente Michel Temer, que há poucas semanas ordenou militarizar o Rio de Janeiro.
“Este assassinato é um tiro para a própria militarização do País”, opinou o especialista. A partir da militarização do Rio de Janeiro, da nomeação do general Walter Souza Braga Netto como interventor dessa cidade e do assassinato de Marielle Franco se “abre uma nova crise para o governo anômalo de Temer, que já por si mesmo é fraco”.
“Isso nos faz entender aqueles que dizem que o Brasil deixou de ser uma democracia, pelo menos no sentido clássico, devido à presença das forças militares”, concluiu Pignotti.
Esquadrões da morte
“É um assassinato muito simbólico que tem mensagens múltiplas porque revela que dentro da Polícia Militar do Rio de Janeiro funciona um esquadrão da morte de estilo mafioso”, afirma o o jornalista Beto Almeida. “Tratam de vários assuntos, incluindo aqueles ligados à economia, bem como à distribuição de água mineral, controle da televisão por cabo nos bairros populares com financiamento ilegal e tráfego de drogas. Há uma penetração do crime organizado no setor policial para retirar benefícios disso.”
Para Almeida, na morte da vereadora há um sentido político por causa da sua história combativa, por ela ser dedicada e ter nascido na favela, ser vítima do racismo e violência durante toda a sua vida. Também o assassinato revela uma disputa entre os setores na esfera de segurança pública para dizer que a intervenção das forças armadas tem que parar.
“Este assassinato funciona como uma espécie de provocação para mergulhar o País no caos, fazendo com que os setores de segurança pública se enfrentem, para assim, por exemplo, criar uma confusão política e administrativa que pode também ter por objetivo adiar as eleições”, frisou.
Ele lembra que nesta semana, por exemplo, foi morto o líder comunitário ecologista no Pará, na Amazônia, que denunciou a contaminação das águas causada por uma empresa norueguesa, além de assassinatos de ativistas do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).