Terça-feira, 29 de julho de 2025
Por Redação O Sul | 22 de agosto de 2020
A Associação Nacional de Jornais (ANJ) classificou como “descabida” qualquer investigação policial sobre opiniões publicadas na imprensa. Em nota divulgada a entidade condenou a intimação da Polícia Federal para que o colunista Hélio Schwartsman, do jornal Folha de S.Paulo, deponha em inquérito que investiga um de seus artigos sobre o presidente Jair Bolsonaro.
“A entidade condena a distorção da finalidade da Polícia Federal para atuar como uma espécie de polícia do pensamento e lamenta o uso da Lei de Segurança Nacional, instrumento anacrônico em uma democracia, para intimidar a livre expressão da opinião”, diz a nota da associação.
O ministro da Justiça e Segurança Pública, André Mendonça, anunciou no dia 7 de julho o pedido de abertura de um inquérito para investigar o artigo Por que torço para que Bolsonaro morra, publicado por Schwartsman no dia em que o presidente anunciou o diagnóstico positivo do coronavírus. Na época, o ministro citou em suas redes sociais o uso da Lei de Segurança Nacional e falou que as liberdades de expressão e imprensa são “direitos fundamentais” e “limitados pela lei”. A Folha, à época, disse que “o colunista emitiu uma opinião; pode-se criticá-la, mas não investigá-la”. O advogado do jornal, Luís Francisco de Carvalho Filho, disse, em entrevista ao jornal, que o inquérito é “mais um desvio autoritário do governo Bolsonaro.”
Essa não é a primeira vez que o Planalto faz uso da Lei da Segurança Nacional para justificar ofensivas jurídicas a críticos. O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, foi alvo de uma representação do ministério da Defesa à Procuradoria-Geral da República por ter declarado que o Exército está se associando a um “genocídio”.
A Lei de Segurança Nacional é um instrumento jurídico usado na ditadura militar para silenciar opositores. Reportagem do Estadão do dia 25 de julho mostrou que, sob o governo Bolsonaro, a Polícia Federal bateu recorde de inquéritos com base na lei. Apenas nos primeiros seis meses deste ano foram abertos 11 inquéritos do tipo.
Ataques
A Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) já havia divulgado em julho dados sobre o monitoramento de ataques contra o jornalismo por parte do Presidente da República, Jair Bolsonaro, referentes ao primeiro semestre de 2020. Foram registradas 245 ocorrências de janeiro a junho de 2020, sendo 211 categorizadas como descredibilização da imprensa, 32 ataques pessoais a jornalistas e 2 ataques contra a FENAJ. São quase dez ataques ao trabalho jornalístico por semana, neste ano.
O monitoramento da FENAJ contempla declarações públicas do presidente em suas lives publicadas no YouTube, conta pessoal no Twitter, vídeos de entrevistas coletivas em frente ao Palácio do Alvorada e transcrições de discursos e entrevistas disponibilizadas no portal do Planalto.
Para além dos números, os dados mostram que as notícias sobre as ações do governo ou a postura do presidente sobre diversos assuntos transformam a imprensa em sua “inimiga”, com a construção de uma narrativa de ataques com o objetivo de promover a descredibilização do trabalho jornalístico e da credibilidade da produção de notícias. Algumas vezes o presidente coloca a imprensa e os jornalistas como “inimigos do País”, por conta de coberturas que o desagradam.