Sábado, 27 de setembro de 2025
Por Redação O Sul | 20 de setembro de 2025
A pressão nas redes sociais contra a PEC da Blindagem, aprovada na terça-feira pela Câmara dos Deputados, levou parlamentares que votaram a favor da medida, tanto da direita quanto da esquerda, a recuarem e, até mesmo, pedirem desculpas pelo posicionamento. O movimento digital, que mobilizou desde artistas até entidades da sociedade civil, também provocou uma incomum vitória da esquerda nas plataformas, segundo levantamento da consultoria Bites.
As justificativas pelo voto favorável à proposta foram diversas, de ameaças de retaliações internas a “sacrifícios” para tentar evitar a votação da anistia. A deputada Silvye Alves (União-GO) disse que vai deixar seu partido devido à polêmica da votação. Em um vídeo publicado no Instagram, a parlamentar disse que, na primeira votação do tema, se posicionou contra a PEC, mas alegou ter sofrido ameaças de “pessoas influentes” para mudar de posição.
“Votei contra, às 19h. A partir desse momento, comecei a receber muitas ligações de pessoas influentes do Congresso, se é que vocês me entendem. Ligaram dizendo que eu sofreria retaliações. Eu fui covarde, cedi à pressão, e por volta de quase 23h mudei o voto”, disse a deputada, que pediu desculpas aos eleitores..
Já o deputado Merlong Solano (PT-PI) disse que seu voto favorável tinha o objetivo de “ajudar a impedir o avanço da anistia e viabilizar a votação de pautas importantes para o povo brasileiro, como a isenção do Imposto de Renda, a MP do Gás do Povo, a taxação das casas de apostas e dos super-ricos, além do novo Plano Nacional de Educação”.
Mas, em uma nota publicada nas suas redes sociais, o petista admitiu que “esse esforço não surtiu efeito” e que o suposto acordo político foi rompido e afirmou que, por isso, assinou como coautor, junto com o deputado Pedro Campos (PSB-PE), um mandado de segurança protocolado no Supremo Tribunal Federal (STF) para pedir a anulação da votação.
Estratégia falha
Irmão do prefeito de Recife, João Campos (PSB), o deputado pernambucano também foi às redes se explicar. Pedro alegou que, diante do avanço da pauta na Câmara, o campo progressista optou por “discutir o texto da PEC e tentar tirar os maiores absurdos que ali estavam contidos e buscar um caminho para barrar a anistia e fazer avançar as pautas populares”, conforme explicou em vídeo publicado em seu perfil.
“A PEC passou do jeito que nós não queríamos, inclusive com a manobra para voltar o voto secreto que nós já tínhamos derrubado em votação. Por isso, tenho a humildade de reconhecer que não escolhemos o melhor caminho. E saímos derrotados na votação da PEC e na votação da anistia”, afirmou Pedro Campos.
O deputado Thiago de Joaldo (PP-SE) foi outro que afirmou que se arrependeu e mudou de posição após receber comentários e análises: “Nunca busquei proteger criminosos nem dar salvo-conduto para prática de qualquer outro crime. A partir daí, comecei a receber comentários de especialistas, me atentar à imprensa, sobretudo ouvir os comentários. Reconheço que falhei, peço desculpas e trabalharei para corrigir”.
O movimento dos parlamentares tem relação direta com o termômetro das redes. Um levantamento da Bites mostra que, desde a terça-feira, a PEC da Blindagem gerou quase 1,6 milhão de menções. A maior parte deste volume veio da plataforma X. A análise mostra que a discussão sobre o tema foi dominada pela esquerda, porém sem tanto engajamento de perfis que não acompanham política, como aconteceu na condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro.
“A pressão sobre os deputados ajudou a consolidar uma oposição no Senado ao texto, até por parlamentares da direita. Essa pressão ocorreu também por nomes que não estão ligados ao governo, que conseguiram constranger deputados petistas que votaram a favor. Vitórias da esquerda não são tão comuns nas redes, o que mostra a relevância do movimento, mesmo que tenha ficado mais restrito a esse campo”, diz o diretor-adjunto da Bites, André Eler.
Classe artística
A mobilização contrária ao projeto também mobilizou atores e cantores, como Anitta e Caetano Veloso. O último chamou a proposta de “PEC da Bandidagem” e defendeu a realização de manifestações populares contra a iniciativa.
Um levantamento da consultoria Arquimedes aponta que o campo progressista representou 89% dos perfis que abordaram a PEC e se somou a um grupo de direita não bolsonarista (4% do total), também crítico ao texto e formado principalmente por simpatizantes do MBL. Já os bolsonaristas representaram apenas 7% do debate e buscaram justificar a necessidade de acordo para votar uma anistia. Com informações do jornal O Globo.