Sábado, 08 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 18 de agosto de 2018
A campanha presidencial começou com comentários e propostas polêmicas que já chamam a atenção dos eleitores em todo o Brasil. Na economia, a curiosidade do eleitor é saber qual a melhor proposta para reerguer o País após a maior crise de sua história. Neste sentido, a alternativa que mais repercutiu até agora nas redes sociais foi a ideia do candidato Ciro Gomes (PDT) de intervir no cadastro de pessoas negativadas pelo SPC (Serviço de Proteção ao Crédito), prometendo tirar o eleitor/devedor do SPC. O vídeo do debate da TV Bandeirantes em que o candidato fala de sua proposta já passou de 1,3 milhão de visualizações.
O interesse se dá pelo número de brasileiros com problema de crédito. Segundo estimativas do SPC, há mais de 63 milhões de pessoas com restrições de acesso ao crédito por inadimplência.
A entidade, que reúne dados fornecidos pelas CDLs (Câmaras de Dirigentes Lojistas) de todo o País e cerca de 1,2 milhão de empresas, foi criada há 55 anos. Sua função é fornecer de informações de negociações de crédito com o intuito de manter a confiança no segmento. Por lei, as empresas podem acionar o SPC para negativar o nome de um cliente um dia após o vencimento de uma conta, mas, de forma geral, as empresas costumam esperar 30 dias para tomar a iniciativa. E, quando o consumidor regulariza sua situação, tem direito de ter o nome limpo novamente em no máximo cinco dias úteis.
Com o agravamento da crise e a persistência do ritmo lento da economia, saltou a quantidade de pessoas que não conseguem manter suas obrigações em dia. De acordo com o último levantamento do SPC Brasil, de julho, a quantidade de CPFs negativados (com acesso restrito ao crédito) representa 41% de toda a população adulta do País.
Diante de um número tão abrangente de devedores e dos recursos que seriam necessários para perdoar ou renegociar os valores, a proposta de Ciro preocupa economistas. “Esse tipo de iniciativa traz instabilidade ao mercado. Se isso fosse adiante, as empresas que financiam a venda de produtos passariam a fazer uma análise de crédito ainda mais rigorosa. Então, na prática, não haveria um ganho de fato para a população”, opina o professor de economia da Universidade Federal de Pernambuco e consultor de empresas Ecio Costa.
Já o economista da Fecomércio-PE Rafael Ramos frisa que o aumento do endividamento no País é consequência de um problema maior. “As pessoas querem poder pagar suas dívidas, querem conseguir arcar com seus gastos. E só com a retomada do emprego – e do emprego qualificado, não do subemprego – é que elas vão conseguir voltar a fazer isso”, defende Ramos.
O especialista ainda destaca que governos, entidades empresariais e o próprio SPC já promovem com regularidade feirões para renegociação de dívidas. Nesses eventos são revistos juros, prazo e até mesmo o valor total que é devido. “A maior parte das pessoas que têm o nome no SPC admite que se tornou inadimplente por falta de planejamento. Então é preciso refletir sobre uma medida que, no fim, pode premiar quem é inadimplente”, complementa o economista.