Quarta-feira, 21 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 2 de junho de 2018
A ciência está cada vez mais próxima de fazer uma descoberta que desperta a curiosidade humana há décadas: a existência de vida fora do planeta Terra. De acordo com o astrônomo Gustavo Porto de Mello, são grandes as possibilidades de que essa notícia seja dada nos próximos dez anos.
Alguns corpos celestes têm surpreendido os cientistas por apresentarem possibilidades de abrigar vida, ainda que microscópica. Se até pouco tempo Marte era o favorito após a descoberta de água em seu subterrâneo, as recentes confirmações da presença de água em duas luas do Sistema Solar – Europa (do planeta Júpiter) e Encélado (de Saturno), tornaram ainda maiores os indícios de vida extraterrena.
Quem mais tem instigado os cientistas sobre a possibilidade de abrigar vida é Europa. “Essa lua desperta interesse desde as primeiras visitas das sondas Voyager, da Nasa [agência espacial norte-americana], que no final dos anos 1970 mostraram o satélite completamente coberto de gelo, com uma superfície lisa e sem crateras, o que indica estar sendo renovada”, disse o astrônomo Gustavo Porto de Mello, professor no Observatório do Valongo, no Rio de Janeiro.
Mello ressalta que os dados obtidos posteriormente pela sonda Galileu confirmaram essa conclusão: “Aparentemente, havia algum tipo de atividade interna dentro dessa lua, que mantinha o gelo renovado de forma constante. A maneira mais fácil de entender esse efeito na superfície é supor que existe um oceano, possivelmente de grandes dimensões, abaixo do gelo”.
A missão Cassini, no planeta Saturno, também observou esse tipo de atividade interna na lua Encélado. Essa movimentação foi capaz de manter a água líquida abaixo da superfície e ejetar água na forma de gêiseres. Imagens feitas pelo telescópio espacial Hubble detectaram possíveis evidências do líquido jorrando também da superfície de Europa.
Gustavo Mello explica que, embora a sonda Galileu não tenha identificado água diretamente por meio de fotografia, foi observada uma distorção do campo magnético que, de acordo com os autores do estudo, deveria ter sido causada por emissões de água em Europa.
“Ao ser enviada ao espaço, essa água é alterada pela luz do sol, gerando uma carga elétrica capaz de distorcer o campo magnético daquela lua. Foi isso o que a sonda mediu”, aponta o astrônomo.
A partir desses dados, foram feitas simulações por meio de computadores que reproduziram as características das plumas de água observadas pelo Hubble em Europa. Os resultados apresentaram medidas muito parecidas com as observadas pela sonda Galileu.
“Surgiu então mais uma evidência, dentro de um corpo de evidências muito grande e acumulado há quase 30 anos, de modo que já dá para se afirmar com muita segurança que deve haver um oceano bastante extenso de água líquida debaixo da superfície de Europa”, destacou o astrônomo.
A expectativa é que a descoberta de algum tipo de descoberta, nesse sentido, ocorra em menos de dez anos: “Estou cada vez mais otimista de que encontraremos vida extraterrena] nos próximos anos. Seja em um lugar como o satélite Europa ou Marte, ou mesmo em algum planeta orbitando outra estrela, através da identificação de oxigênio na atmosfera. Vamos detectar alguma evidência clara. Possivelmente apenas de vida microbiana, mas já é um grande ponto de partida”.
Ainda conforme o astrônomo, há uma grande divisão nas escolas de astrobiologia sobre a chance de se detectar uma biosfera complexa como a terrestre, com animais multicelulares e inteligência. “Essa é uma questão complicada e sem resposta clara, mas quase todo mundo concorda que vida microbiana, unicelular, simples, será detectada”.
Missão
Mello e outros profissionais da área mantêm grandes expectativas em relação à missão Europa Clipper, que está sendo planejada pela Nasa para explorar a lua de Júpiter nos primeiros anos da próxima década. Isso é importante porque, nos últimos anos, a Nasa vinha colocando muita ênfase em Marte, que é um planeta parecido com a Terra.
“A questão é que esses resultados recentes de Europa mostram uma mudança de pensamento, de modo que vai haver missões biológicas com o objetivo de buscar vida em lugares que são substancialmente diferentes da Terra”, relata.
É bastante provável que, se forem encontrados organismos vivos em Europa, eles sejam similares às chamadas bactérias termófilas encontradas na profundidade dos oceanos da Terra.
“Da maneira como entendemos a vida em nosso planeta, para haver vida são necessários três ingredientes: água líquida, uma certa química, principalmente a química orgânica do carbono, com moléculas capazes de fazer ligações, e energia, que na Terra é fornecida principalmente pela luz do sol”, explicou o cientista. No caso de Europa, porém, a vida pode ter se desenvolvido abaixo do gelo.