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Por Redação O Sul | 8 de julho de 2018
As dificuldades enfrentadas pela economia argentina devem produzir efeitos negativos sobre a produção brasileira e condicionar a revisão do PIB (Produto Interno Bruto) deste ano, segundo relatório da IFI (Instituição Fiscal Independente).
O país vizinho é um dos principais parceiros comerciais do Brasil e, neste ano, tem enfrentado um cenário econômico conturbado e chegou a pedir ajuda ao FMI (Fundo Monetário Internacional).
Um dos setores mais sensíveis a esse cenário é o automotivo. A Argentina recebe 76% das exportações do Brasil de veículos leves e 46% das de caminhões e ônibus, segundo a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores).
As vendas para o país vizinho também envolvem, segundo dados de 2017, grande volume de negócios nas áreas de máquinas e caldeiras (10%) e ferro e aço (4,5%).
Para Celso Grisi, professor de comércio exterior da USP (Universidade de São Paulo), a queda na demanda por carros na Argentina deve afetar o PIB brasileiro. As projeções de crescimento já foram revistas por causa da mobilização dos caminhoneiros. Está entre 1% e 1,5%. A indústria automobilística representa cerca de 22% do PIB industrial e 4% do total.
“O setor vai apanhar mais um pouco com a crise na Argentina. Não acredito que vá representar mais que 3,5% do PIB em 2018. O impacto não é desprezível, apesar de não ser trágico”, afirma. Mais preocupante, segundo ele, é uma possível repercussão na cadeia produtiva e nos empregos gerados pela produção de veículos.
O Brasil tem superavit comercial com a Argentina. “Somos grandes compradores do trigo argentino, mas a balança comercial é mais favorável para o Brasil, devido aos bens manufaturados e semi-manufaturados que mandamos para lá”, diz Otto Nogami, professor de economia do Insper.
Segundo dados divulgados pela Anfevea, as projeções já começaram a ser materializar. As vendas de veículos leves, caminhões e ônibus para o exterior ficaram em 64,9 mil unidades em junho, o que representa uma queda de 4,4% em relação ao mesmo mês do ano passado.
“É um início de revisão dos pedidos de importação pelo lado da Argentina, e, consequentemente, das nossas exportações. Estamos olhando com um pouco de cuidado. Vínhamos em um ritmo mais forte”, diz Antonio Megale, presidente da Anfavea.
No acumulado de janeiro a junho, o avanço foi de apenas 0,5% na comparação com o primeiro semestre do ano passado. O resultado levou a entidade a revisar sua projeção de que as exportações alcançariam 800 mil unidades neste ano. Pelos novos cálculos elas devem ficar em torno de 766 mil unidades, um número que o presidente da Anfavea ainda considera satisfatório.
“Pelos pedidos que estão chegando da Argentina e do México, nossos principais mercados, acreditamos que ficaremos no mesmo nível de 2017, o que não é desprezível porque 766 mil unidades foi o recorde histórico da indústria automobilística. Não é ruim, mas infelizmente, um pouco abaixo das nossas projeções anteriores.”
FMI
A Argentina ingressou em uma disparada do dólar neste ano, com a dificuldade do governo de Mauricio Macri em proteger sua moeda da desvalorização, tendo de bater na porta do FMI (Fundo Monetário Internacional) e cortar as projeções de crescimento econômico do país pela metade.
A revisão da estimativa de exportações também impacta as previsões da produção local. No primeiro semestre, a indústria produziu 1,43 milhão de unidades no Brasil, alta de 13,6% até o momento, mas que deve arrefecer no segundo semestre, segundo Megale.
Uma dos mais sensíveis ao desempenho da economia argentina, a indústria automotiva já esperava que a crise do país vizinho afetaria as exportações de veículos, mercado que ajudou a retomar a produção em meio à queda nas vendas.
A Argentina recebeu 76% dos carros nacionais enviados ao exterior em 2017. Dentre os caminhões, o total chega a 46% da produção, segundo a Anfavea. Cerca de 762 mil automóveis brasileiros cruzaram as fronteiras no ano passado, o que representa 28% de tudo o que foi produzido no Brasil entre modelos leves, ônibus e caminhões.