Sábado, 27 de abril de 2024
Por Redação O Sul | 3 de junho de 2018
A quatro meses das eleições e perto de terminar o mandato, o presidente Michel Temer trocou a agenda reformista por uma luta diária pela sobrevivência. Sob cerco político e com a base aliada dividida no Congresso, Temer mostrou a fragilidade do governo ao ser obrigado a ceder na greve dos caminhoneiros e deve ter dificuldade para conseguir aprovar as prioridades econômicas definidas, em abril, pelo ministro da Fazenda, Eduardo Guardia. Com menos de um ano para o fim do governo, a agenda já não era robusta, e a crise na Petrobras só complicou ainda mais o cenário.
O projeto mais complexo, e que já estava emperrado, é a privatização da Eletrobras. Reservadamente, a equipe econômica não acredita mais que seja possível aprovar a venda da estatal este ano, mesmo tendo enviado um projeto de lei para o Congresso com o objetivo de destravar o negócio. Só para se ter uma ideia do impasse, os parlamentares ainda discutem normas de operação, com temas que passam até mesmo pela destinação de recursos para a recuperação da Bacia do São Francisco. Já a venda das seis distribuidoras deficitárias da estatal no Norte e Nordeste é avaliada como de dificuldade moderada e tem chances de ser aprovada.
Até mesmo projetos de tramitação mais fácil, na análise da equipe de Guardia, estão travados no Congresso, como a duplicata eletrônica e o cadastro positivo – o banco de dados de bons pagadores que poderia baratear o crédito.
Da lista de medidas que a Fazenda tentava aprovar, só uma foi para a frente até agora: o aumento da carga tributária para alguns setores, por meio da reoneração da folha de pagamento, recebeu o aval do Congresso, como condição ao subsídio do diesel. Deputados e senadores ficaram insatisfeitos, porém, com o aumento dos setores reonerados de 28 para 39. Eles ameaçam derrubar os vetos de Temer que diminuíram os segmentos contemplados com o benefício criado pela ex-presidente Dilma Rousseff.
Com uma crise atrás da outra, o governo Temer entra em sua fase final com mais problemas do que soluções à vista. Até recentemente, a esperança da equipe residia na recuperação da economia, mas agora há pessimismo no mercado e incertezas no horizonte, principalmente às vésperas da eleição.
Diante de um cenário com dólar em alta, novas ameaças de greves e um contingente de quase 14 milhões de desempregados, analistas já estimam que o PIB ficará em menos de 1,5% neste ano. Para piorar a situação, Temer perdeu apoio no Congresso. No Planalto, há receio de uma nova denúncia contra o presidente.
Sem conseguir aprovar as mudanças na Previdência, o governo também desistiu da reforma tributária, mas ainda busca emplacar uma agenda mais popular, como a redução do preço da gasolina e do gás de cozinha.