Terça-feira, 27 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 7 de maio de 2018
Enquanto o desembargador Gebran Neto, do TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região), não decide se homologa a delação de Antonio Palocci, seus colegas travam discussão informal sobre o assunto. Entre desembargadores do TRF-1 (Tribunal Regional Federal da 1ª Região), a maioria se manifesta nos grupos de WhatsApp contra a PF fazer acordos de colaboração premiada. Opinam que o titular da ação penal é o MPF (Ministério Público Federal), a quem cabe barganhar com o investigado em troca de informação. Um juiz que pediu para não ser identificado resume: “Nada que a PF [Polícia Federal] faça é relevante como delação. É um depoimento igual a qualquer outro”.
A maioria do Supremo já se manifestou a favor da PF firmar delação, mas a votação foi interrompida em dezembro e não há data para ser retomada. Há dúvidas sobre a extensão do acordo e a necessidade de um aval do MPF.
Relembre
Em setembro passado, o ex-ministro Antonio Palocci lançou uma frase que ficaria famosa na Lava-Jato: em depoimento ao juiz Sérgio Moro, Palocci acusou o ex-presidente Lula (PT) de fechar em 2010 um “pacto de sangue” com o empreiteiro Emílio Odebrecht, dono da mega-construtora que leva o nome de sua família.
Emílio Odebrecht estava com medo de perder influência no futuro governo da recém-eleita Dilma Rousseff (PT), afirmou Palocci; como forma de se garantir, o empreiteiro foi ao encontro de Lula no Alvorada (residência oficial dos presidentes) e ofereceu um “pacote de propinas” ao ex-sindicalista: um terreno na Vila Clementino, em São Paulo, para a nova sede do Instituto Lula; a reforma do sítio de Atibaia (SP) frequentado pelo petista; e a quantia de R$ 300 milhões.
Antes disso, num outro processo contra si, Palocci já tinha prometido a Sérgio Moro em abril de 2017, entregar “todos os fatos com nome, endereços e operações realizadas”.
Em julho passado, mais um revés para o ex-ministro da Casa Civil de Dilma: Moro o condenou a 12 anos e 2 meses de prisão, por corrupção passiva e lavagem de dinheiro; e escreveu na sentença que a oferta de cooperação em abril soou “mais como uma ameaça para que terceiros o auxiliem indevidamente para a revogação da (prisão) preventiva, do que propriamente como uma declaração sincera de que pretendia naquele momento colaborar”.
Ao longo dos governos Lula e Dilma, o ex-ministro disse ter tomado conhecimento de crimes que resultaram em prejuízo de R$ 42 bilhões à Petrobras, segundo estimou a PF.
Tanto Lula quanto Dilma negam as acusações. O PT sustenta que Palocci cedeu a chantagens da Polícia Federal e que está mentindo para tentar livrar-se da cadeia. “A delação implorada do senhor Antonio Palocci tem um problema central. Não está sustentada em provas. E ele não as têm porque tais fatos jamais ocorreram”, diz a nota do partido.
“No esforço desesperado de obter a liberdade, o senhor Antonio Palocci cria um relato que busca agradar aos investigadores, na esperança de que possam deixá-lo sair da prisão”, já disse anteriormente em nota o partido.