Domingo, 26 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 3 de setembro de 2017
Além de complicar a situação do presidente Michel Temer, a delação premiada do doleiro Lúcio Funaro deverá atingir ao menos 20 políticos ligados ao ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB-RJ), para quem trabalhou como operador de propinas. A lista inclui nomes como os dos ex-ministros Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo) e Henrique Eduardo Alves (Turismo), dois dos mais próximos aliados do chefe do Executivo.
Além disso, Funaro indicou contas nas quais foram depositados valores de propinas, supostamente a mando de Cunha. O caso de Geddel, um dos dois ministros mais fortes na primeira fase do governo Temer, é o mais detalhado. Em um dos depoimentos da delação, Funaro explicou de onde tirou e como fez o dinheiro chegar a Geddel.
Também indica viagens e até o número de voos que usou para se encontrar com o ex-ministro na Bahia. Declarações preliminares do doleiro, antes mesmo do início das negociações para a colaboração, já levaram Geddel à cadeia – o ex-ministro está hoje em prisão domiciliar em Salvador.
Funaro relatou também que fez pagamentos a mando de Cunha a pelo menos mais 18 políticos, a maioria da base governista na Câmara. O ex-parlamentar indicaria onde buscar ou de quem receber o dinheiro e para quem os subornos deveriam ser repassados.
A compra de parlamentares fazia parte do projeto político de Cunha. Depois de passar pela liderança do PMDB, o parlamentar chegou ao comando da Câmara e, a partir dali, chegou a almejar a Presidência da República. O projeto, no entanto, desmoronou após a descoberta de conta secretas em nome dele na Suíça.
Depoimento
Funaro deve ser interrogado já nesta segunda ou terça-feira por um juiz-auxiliar do ministro Luiz Edson Fachin, relator da Operação Lava-Jato no STF (Supremo Tribunal Federal). Como é de praxe, ele deverá responder se fez delação por livre e espontânea vontade.
Não havendo problemas, a delação deve ser homologada já nesta semana e o doleiro poderá confirmar a versão de que recebeu dinheiro do empresário Joesley Batista, da JBS/Friboi, para permanecer em silêncio.
A delação deverá robustecer a denúncia que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, está preparando contra Temer. O presidente da República é investigado por obstrução à Justiça e envolvimento em organização criminosa. Com o meio político agitado pela espera da segunda denúncia, Temer decidiu antecipar em um dia sua volta da China, onde participa de reunião dos Brics.
Conforme ministros e assessores, o motivo da antecipação não é a denúncia, mas o esforço para aprovar os destaques ainda pendentes do projeto da mudança da meta fiscal. Segundo um ministro, a presença do “general” no quartel vai ajudar a apressar a aprovação dos destaques da mudança da meta e, assim, resolver o problema da proposta do Orçamento.
Em vez de chegar na quarta-feira, o plano agora é aterrissar em Brasília na terça-feira, a tempo de ainda ter deputados na cidade, já que o feriado do Sete de Setembro vai encurtar a semana. Terça e quarta-feira são os dias de maior trabalho no Congresso Nacional, o que explicaria a decisão de retornar mais cedo a Brasília, segundo assessores.