Sexta-feira, 13 de junho de 2025
Por Redação O Sul | 4 de maio de 2018
As fortes turbulências econômicas sofridas pela Argentina nos últimos dias, incluindo uma inesperada corrida ao dólar que fez a cotação da moeda americana superar os 23 pesos (desde o começo do ano o peso desvalorizou-se quase 15%), assustou os argentinos e deixou investidores estrangeiros em estado de alerta.
Depois de ter atravessado seus dois primeiros anos de mandato num clima de confiança, dentro e fora do país, o presidente Mauricio Macri entrou em uma nova etapa, com fantasmas do passado pairando sobre a Casa Rosada e atrapalhando o futuro de seu plano econômico. E não é para menos. Nos últimos 70 anos, lembrou o economista Martin Tetaz, professor da Universidade Nacional de La Plata, o país viveu 15 crises econômicas e em 14 delas a moeda se desvalorizou. Quando o dólar dispara, enfatizou Tetaz, “os argentinos piram e não será fácil reconstruir a confiança perdida nos últimos dias”.
Nesta sexta-feira (4), num clima de tensão elevada, o governo Macri partiu para a ofensiva: o ministério da Economia apertou a meta de déficit fiscal, que passou de 3,2% do PIB (produto interno bruto) para 2,7%, e o Banco Central da República Argentina aumentou novamente a taxa de juros de referência, de 33,25% para 40% (patamar considerado insustentável por analistas). Paralelamente, a instituição adotou medidas drásticas que obrigam os bancos a se desfazerem, nos próximos dias, de cerca de US$ 1,8 bilhão. O dólar, finalmente, recuou, ficando abaixo dos 22 pesos.
Mas as dúvidas permanecem e levaram a agência de classificação de risco Fitch a rebaixar a categoria da dívida argentina de “positiva” para “estável”. Em seu relatório, a Fitch alertou para a inflação alta (as estimativas são de até 23% para este ano), volatilidade econômica e os desequilíbrios fiscais e externos.
As medidas adotadas pela equipe econômica – às voltas com rumores de curto-circuitos cada vez mais acentuados – foram comemoradas nas redes sociais pelos macristas, entre eles pelo líder do governo no Senado, Federico Pinedo, que pediu “uma nova reportagem da revista Forbes sobre a Argentina”. Pinedo referiu-se a recente matéria publicada pela revista, na qual a Forbes assegurava que “talvez seja o momento de sair da Argentina”.
A imagem de Macri no exterior claramente mudou. O presidente que derrotou o kirchnerismo nas urnas, depois de 13 anos de poder, e prometeu romper um ciclo de isolamento, recuperar o respaldo externo e voltar a colocar a Argentina no mundo enfrenta dificuldades que não estavam em seus planos e que abalaram um dos pilares de seu modelo: o apoio dos mercados e, principalmente, dos investidores estrangeiros.
Por que Macri foi rebaixado de categoria e passou a ser olhado com lupa por seus próprios eleitores, muitos dos quais estão irritados com a falta de resultados econômicos concretos, por exemplo, uma redução expressiva da inflação? As razões são várias e uma das mais importantes é que a Argentina de Macri continua sendo um país altamente dependente do financiamento externo. As necessidades de financiamento alcançam em torno de US$ 30 bilhões anuais (este ano já foram cobertos 85% deste total), o que representa 5% do PIB. É um percentual elevado, em comparação com outros países da região, e difícil de administrar para um país que, hoje, tem uma taxa de risco de 450 pontos básicos (a do Peru não chega a 150). Ter uma taxa de risco elevada significa pagar juros mais caros no mercado e esse é o motivo pelo qual a Argentina suspendeu suas emissões, até mesmo em reais, fora do país. Entre 2015 e 2017, Macri conseguiu reduzir em 200 pontos básicos a taxa de risco do país. Mas a tendência começou a reverter-se no final do ano passado.
“A Argentina precisa pedir muito dinheiro emprestado e isso foi ficando cada vez mais difícil pelas dúvidas que existem sobre a viabilidade de cumprimento do plano econômico”, explicou Fausto Spotorno, economista-chefe da empresa de consultoria Orlando Ferreres e Associados.