Terça-feira, 06 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 20 de setembro de 2017
Comandante do Exército, o general Eduardo Villas Bôas rechaçou a hipótese de uma intervenção militar no Brasil, aventada por outro general, Antonio Hamilton Mourão, em uma palestra na última sexta-feira. Apesar de alegar que as frases do colega foram retiradas de contexto, o comandante deixou claro, em entrevista ao programa Conversa com Bial que “sem dúvida” a continuidade da democracia é o caminho ideal para o Brasil e vaticinou que “ditadura nunca é melhor”.
O general Villas Bôas afirmou que a atuação do Exército desde o início da crise política tem sido o de dar garantias para a estabilidade das instituições e que é assim que a instituição continuará agindo. “As nossas diretrizes têm sido, desde o início das crises, promover a estabilidade, jamais causar instabilidade. Se pautar sempre pela legalidade e depois preservar sempre a legitimidade que o Exército tem”, disse. Questionado, ele apontou que Mourão não será punido, uma vez que também disse seguir as diretrizes do comandando e por ter feito as declarações em um evento privado e fechado, em Brasília.
Na avaliação do militar, as eleições de 2018 serão um momento-chave no “processo de depuração” que vê em atividade hoje no Brasil. “No próximo ano, a sociedade brasileira terá a responsabilidade de dar resposta a isso tudo”, defendeu, apesar de reconhecer que está com expectativas baixas para o cenário político no próximo pleito, porque não viu “surgir nenhuma base ou conjunto de pensamento que sirva de alternativa, que rompa com os modelos e esquemas já ultrapassados”.
“Por enquanto, eu não vejo líderes capazes de estimular esse tipo de renovação”, fazendo coro ao apresentador Pedro Bial, que falou sobre o risco do “populismo”, que o general definiu como “a desgraça da América do Sul”. Eduardo Villas Bôas ressaltou, no entanto, que acredita que existem saídas para a crise brasileira: “Um país com o potencial do nosso, com os recursos naturais e humanos, a energia e a criatividade da população brasileira é claro que tem jeito”, concluiu.
Outro desconforto
Mourão já protagonizou outro desconforto político em outubro de 2015, quando criticou o governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Pelo Regulamento Disciplinar do Exército, o general pode ser punido por dar declarações de cunho político sem autorização de seu superior hierárquico.
A decisão do comandante do Exército foi interpretada como uma tentativa de abafar o caso e não teria agradado ao ministro da Defesa, Raul Jungmann (PPS). Ele esperava algum tipo de sinal de que esse tipo de declaração não pode ser tolerado. De acordo com integrantes do Alto Comando, Mourão está exatamente a seis meses de deixar o serviço ativo.
Precaução
Em 2015, por causa de suas declarações sobre Dilma, o general Mourão perdeu o Comando Militar do Sul e foi transferido para a Secretaria de Economia e Finanças, um cargo de funções burocráticas. Agora, diante da pressão política, ele pode ser retirado de sua função, como medida paliativa para que seu gesto não sirva de “incentivo” a outras manifestações semelhantes.
O assunto ainda é objeto de discussão, porque há quem entenda que puni-lo poderia levar a uma leva de solidariedade no Exército, criando um clima político considerado “desnecessário”.
Uma manifestação de apoio a Mourão partiu do deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ), pré-candidato à Presidência da República em 2018. Bolsonaro, que é militar da reserva, publicou em seu Twitter que “não se faz democracia comprando votos e aceitando a corrupção por governabilidade”. “Reagir a isso é obrigação de qualquer civil ou militar”, declarou.