Terça-feira, 25 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 24 de novembro de 2025
A prisão de Jair Bolsonaro no último sábado (22) divide opiniões entre quadros de esquerda. Muitos enxergam que o isolamento do ex-presidente pode deixar a direita dividida, mas também que eventual piora no quadro de saúde dele – que sofre com crises de soluços e vômitos – possa atrair maior simpatia de eleitores indecisos.
Bolsonaro foi preso preventivamente por determinação do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. A decisão citou risco de fuga para embaixada dos Estados Unidos e violação de tornozeleira eletrônica na madrugada.
O ex-presidente, que cumpria medida cautelar em casa e com monitoramento eletrônico desde 4 de agosto, foi levado para a Superintendência da Polícia Federal em Brasília, onde ficará preso em espaço com cama, banheiro privativo e uma mesa.
Publicamente, parlamentares e líderes partidários ouvidos pela Folha disseram que fica embaralhado o cenário político para 2026, já que a direita não conseguiu se unir, até o momento, em torno de um novo líder.
Sob reserva, alguns entendem que o delicado quadro de saúde do ex-presidente pode sensibilizar a população e citam, como exemplo, a facada da qual Bolsonaro foi vítima durante a campanha presidencial de 2018.
A maior exposição midiática e as imagens do então candidato no hospital teriam, segundo os políticos, despertado o sentimento de solidariedade entre as pessoas. Um líder partidário avaliou que manter Bolsonaro em prisão domiciliar – quando se iniciar o cumprimento de sua pena de 27 anos e três meses pela trama golpista – geraria menos comoção do que mandá-lo para a carceragem.
O prazo para apresentação de novos recursos pelas defesas dos réus condenados no primeiro núcleo do julgamento da trama acabou nessa segunda (24). Integrantes do STF afirmam que Moraes poderá determinar já nesta terça-feira (25) onde Bolsonaro e os demais condenados deverão cumprir suas penas.
O ex-ministro José Dirceu dividiu opiniões no PT ao dizer, publicamente, que Bolsonaro deveria ficar em casa. Horas após a prisão, disse que a decisão significa “um recomeço” para o país. “O chefe da tentativa do golpe está preso”, escreveu nas redes sociais.
Para Adriano Oliveira, professor e doutor em ciência política pela UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), o bolsonarismo apostará em paralelos com a prisão do presidente Lula em 2018, também em uma sala da Superintendência da PF, mas em Curitiba.
Lula foi enviado para o local porque o ex-juiz Sergio Moro (União Brasil), hoje senador pelo Paraná, determinou que ele ficasse separado dos presos comuns. Na ocasião, petistas reclamaram do isolamento e compararam o cárcere a uma solitária.
Segundo Oliveira, bolsonaristas tentarão mostrar Lula como um privilegiado por não ter sofrido das mesmas questões de saúde enfrentadas por Bolsonaro.
“Isso fortalece o discurso da direita contra o presidente Lula em uma campanha eleitoral” e pode conquistar eleitores que não aderem a nenhum dos dois campos políticos, disse.
Moraes determinou que Bolsonaro receba atendimento médico “em tempo integral” e “em regime de plantão”, sem necessidade de autorização prévia do STF para acessar o local.
Presidente nacional do PSOL, Paula Coradi acredita ser difícil pintar o ex-presidente como vítima, mesmo diante de um quadro de saúde frágil. “Afinal de contas, ele próprio sempre se mostrou contra esse tipo de discurso”, disse ela.
“Acho que a extrema direita vai tentar vitimizá-lo, mas ao mesmo tempo buscará uma saída eleitoral que garanta a eles a maioria no Senado, na Câmara ou até na Presidência”, acrescentou.
O deputado federal Jilmar Tatto (PT-SP), membro da executiva nacional petista, concorda que a direita deve apostar em novas lideranças, mas avaliou que isso deve ampliar disputas internas que já ocorrem entre aliados bolsonaristas.
“Há brigas na família (Bolsonaro) e entre a família e amigos. Há um descolamento visível de muitos em relação a ele. A tendência (com a prisão) é desidratar ainda mais a figura política dele”, avaliou Tatto.
O vice-líder do PT na Câmara dos Deputados, Rogério Correia (MG), disse que o fato de Bolsonaro estar preso centraliza ainda mais no clã o poder de repassar informações e eventuais apoios. Para ele, isso reduz eventuais simpatias que o ex-presidente poderia ter por políticos que não sejam próximos de seus filhos ou de sua mulher, Michelle Bolsonaro (PL).
“Há um estranhamento entre a extrema direita e o centrão sobre quem pegará o espólio de Bolsonaro. Ele não perde a interlocução que já tem estando na cadeia, mas o fato de estar preso faz com que ele não fale mais publicamente, e tira dele o messianismo no qual a direita aposta”, afirmou Correia. (Com informações da Folha de S.Paulo)