Quinta-feira, 31 de outubro de 2024
Por Redação O Sul | 27 de agosto de 2018
A defesa da ex-presidente da Argentina Cristina Kirchner denunciou, nesta segunda-feira (27), que empregados domésticos que foram a seu apartamento de Buenos Aires apresentaram sintomas de intoxicação, dando a entender que pode haver elementos tóxicos no local. O chefe da polícia nega qualquer irregularidade.
Em carta publicada nas redes sociais, o advogado de Cristina, Carlos Beraldi, relatou que os funcionários que fariam a limpeza após a operação de busca no imóvel tiveram “enjoos, forte ardência na garganta e nos olhos e dificuldades para respirar”.
“Depois de terem sido feitos os controles médicos, constatou-se que os sintomas sofridos têm como origem um tóxico de contato, recomendando-se evitar, por todos os meios, uma nova exposição ao mesmo ambiente”, acrescentou o advogado. Além disso, indicou que, por isso, a ex-presidente e atual senadora não voltará para sua residência.
Em resposta, o chefe da Polícia Federal, Néstor Roncaglia, garantiu que, na revista no apartamento de Kirchner realizada na quinta-feira (16), “não se utilizou qualquer agente químico, nem foram deixados tóxicos”.
“Eu, como chefe da Polícia, me ofereço para ir ao apartamento e apreender os ares-condicionados. Agiu-se de acordo com a legalidade, com a presença de duas testemunhas habilitadas que dão conta do procedimento”, afirmou Roncaglia, rejeitando categoricamente que possa haver no local vestígios de algum agente irritante.
Desde que o Senado autorizou as operações de busca e apreensão em 22 de agosto, Kirchner permaneceu na casa de sua filha, Florencia, em Buenos Aires.
O apartamento de Cristina Kirchner em Buenos Aires, assim como a residência familiar no Río Negro (Patagônia) e sua casa de veraneio de El Calafate (também na Patagônia) foram revistados entre quinta e domingo, no âmbito de um caso de corrupção. No mesmo processo, estão envolvidos vários ex-funcionários de seu governo (2007-2015) e do de seu falecido marido, Néstor (2003-2007), assim como vários empresários.
O juiz Claudio Bonadio investiga “a existência de uma organização criminosa composta por funcionários públicos (…) comandados por aqueles que foram titulares do Poder Executivo”, Néstor e Cristina Kirchner, segundo um informe do caso publicado pelo Centro de Informação Judicial. Como senadora, Kirchner goza de foro parlamentar que impede sua detenção, embora possa ser julgada e condenada.
O escândalo
O escândalo conhecido por “Cadernos das propinas” envolve supostos subornos de importantes empresários para obter contratos de obras públicas entre 2005 e 2015 – durante a presidência de Néstor Kirchner, morto em 2010, e a de sua mulher, Cristina Kirchner.
A causa judicial se baseia em anotações feitas por um ex-motorista do Ministério de Planejamento, Oscar Centeno, em 8 cadernos escolares. Durante 10 anos, Centeno era o responsável pela entrega das sacolas com a propina.
No que seria uma espécie de “diário da corrupção”, Centeno anotou cada movimento com riqueza de detalhes: datas, horários, placas de carros, nomes, endereços e montantes. Algumas vezes fotografou e filmou. O dinheiro era recolhido semanalmente e teria sido entregue aos Kirchner em mãos.