Quarta-feira, 14 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 11 de março de 2019
O ano começou com um alerta para o setor de energia elétrica. O baixo volume de chuvas nos meses de janeiro e fevereiro vai pesar no bolso do consumidor e pode até afetar os índices de inflação.
De acordo com a CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica), que regula os contratos de compra e venda de energia no País, o atual cenário hidrológico vai gerar um déficit da ordem de R$ 22 bilhões para as usinas hidrelétricas, que, sem água em seus reservatórios, terão de comprar energia mais cara no mercado para honrar seus contratos. Daquele valor, 72% serão pagos pelos consumidores do mercado cativo (no qual não se escolhe o fornecedor da energia), como clientes residenciais e comerciais.
Assim, de acordo com cálculos feitos pela PSR Consultoria, o menor volume de chuvas e a maior geração de energia por usinas termelétricas vão resultar num aumento médio nas tarifas residenciais de 5% este ano. Rui Altieri, presidente do Conselho de Administração da CCEE, disse que o déficit previsto para 2019 reflete a perspectiva de um ano hidrológico ruim. Ele lembrou que, no ano passado, o déficit foi de R$ 15 bilhões.
“Em novembro do ano passado, a avaliação era que 2019 seria favorável. Mas, no início deste ano, as chuvas não vieram. O cenário fez a CCEE projetar esse impacto para as hidrelétricas, que precisarão comprar energia para honrar seus contratos. Esse é o cenário hoje. Essa exposição afeta as tarifas de energia do mercado cativo”, afirmou Altieri.
Segundo Nivalde de Castro, coordenador do Gesel (Grupo de Estudos do Setor Elétrico), do Instituto de Economia da UFRJ, o volume de chuvas neste início de ano é equivalente a 65% da média histórica nos locais onde estão os principais reservatórios. Com isso, as usinas hidrelétricas não vão conseguir gerar o volume contratado, sendo forçadas a comprar energia no mercado livre (de curto prazo), no qual a maioria é de usinas termelétricas, que têm um custo mais elevado.
“Esse impacto estimado de R$ 22 bilhões é um problema conjuntural importante, na medida em que pode levar a aumento das tarifas e da inflação. E isso pode se tornar uma preocupação para o Ministério da Economia. Isso já está na agenda do Ministério de Minas e Energia. E essa será uma das prioridades do governo, pois vai afetar o bolso do contribuinte”, explicou Castro.
Segundo Luiz Eduardo Barata, diretor-geral do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), desde 2014 as chuvas não têm sido suficientes para recuperar os níveis dos reservatórios das hidrelétricas, obrigando o sistema a acionar cada vez mais termelétricas. E, se for necessário, o governo já está preparado para importar cerca de mil MW (megawatts) médios de energia, dos quais cerca de 600 MW da Argentina — se houver disponibilidade —, e outros 420 MW do Uruguai.
“Não tem risco de desabastecimento. Mas passamos a ter uma energia mais cara”, disse Luiz Barata.
Recordes de consumo
Isso ocorre em um momento de alta no consumo de energia. Com o forte calor em janeiro, o consumo totalizou no país 73.090 MW, o que representou aumento de 6,6% em relação a igual mês do ano passado. Em janeiro, foram registrados vários recordes de pico de consumo de energia, devido às altas temperaturas. O último foi no dia 30 de janeiro, quando, no início da tarde, chegou-se a registrar demanda de 90.525 MW.
Assim, o nível dos reservatórios nas regiões Sudeste/Centro-Oeste caiu de 34% para 26% do início de 2018 para janeiro de 2019. No Norte, o nível caiu de 53% para 36%, assim como no Sul, que passou de 82% para 36%. Somente o Nordeste teve alta: subiu de 20% para 42%.
O cenário é classificado como de alerta por Juliana Hornink, analista de mercado da Safira Energia. Segundo ela, as poucas chuvas do mês de janeiro vão deixar uma cicatriz para todo o ano, já que é considerado o período mais importante. É por isso que ela acredita que, a partir de maio, a bandeira tarifária deve ficar amarela, quando acaba o chamado período de chuvas. Hoje, está na cor verde.
“Sem água, não se consegue gerar energia. Estamos numa situação desafiadora. As termelétricas já começaram a ser despachadas. Isso vai influenciar no custo das tarifas em geral. Se a economia estivesse em ritmo mais acelerado, iríamos ter um cenário mais complicado.”
Impacto para indústrias
Mas não é só o mercado cativo que já sente os preços altos. No mercado livre, onde estão grandes consumidores de energia, como as indústrias, o peso da conta maior já chegou. Houve aumento de até 133% dos preços nos dois primeiros meses deste ano em relação ao mesmo período do ano passado, apontou a CCEE.