Domingo, 05 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 21 de janeiro de 2020
Especialistas em segurança pública avaliam que a fuga de 76 detentos ligados à facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) de um presídio na cidade paraguaia de Pedro Juan Caballero, fronteira com a brasileira Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul, não deveria surpreender autoridades dos dois países.
Há muito o grupo de origem paulista se espalhou pelo País e por nações vizinhas na América do Sul, pondo em prática os seus métodos similares aos das máfias. A ação ocorrida na madrugada de domingo, em que 40 brasileiros e 36 paraguaios escaparam por um túnel escavado a partir do banheiro de uma das celas, é mais uma demonstração do poderio dessas quadrilhas transnacionais.
Para muitos, parece certo que, para atingir o seu objetivo de libertar os apenados, a facção corrompeu funcionários – a fuga teria custado US$ 80 mil (cerca de R$ 335 mil). Na manhã de segunda-feira, o diretor do presídio, Christian González, foi detido junto com 30 agentes da instituição. Motivo: há fortes suspeitas de que a fuga foi facilitada.
Imagens de câmeras de segurança mostraram movimentação atípica na madrugada de domingo, mas isso não teria chamado a atenção dos guardas. Durante a escavação do túnel, ligando um dos pavilhões à área externa, 200 sacos de areia foram guardados numa cela, mas a cena também passou despercebida no presídio.
É verdade que o incidente sacudiu o governo do Paraguai: o vice-ministro de Política Criminal, Hugo Volpe, renunciou menos de 48 horas após o episódio, ao passo que a ministra da Justiça, Cecilia Pérez, chegou a pôr o seu cargo à disposição das autoridades de Assunción, o que não foi aceito pelo presidente da República, Mario Abdo Benítez. Mas há que se reconhecer que a corrupção de agentes penitenciários desmoraliza um país, ao escancarar que este foi rendido a métodos usados por chefões dos cartéis de droga no mundo inteiro.
Também não é a primeira vez que facções brasileiras se mobilizam para libertar presos no país vizinho. Em outubro de 2018, a polícia paraguaia e a Interpol (Polícia Internacional) conseguiram frustrar um plano do CV (Comando Vermelho) para resgatar o traficante brasileiro Marcelo Piloto, preso em uma unidade da capital paraguaia.
Os agentes “estouraram” um esconderijo da facção carioca na cidade de Presidente Franco, mataram três pessoas e apreenderam armas, detonadores e dois carros carregados de explosivos, que seriam usados no resgate.
Dessa forma, está claro que o combate à violência, bem como o enfrentamento das organizações criminosas, é parte importante desse processo e não pode ficar restrito ao País, como tem defendido o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro. Deve ser tratado em conjunto com os vizinhos, já que essas facções atuam em rotas que se estendem das áreas de produção da droga até os mercados consumidores e pontos de distribuição.
Para lidar com essas quadrilhas, é preciso haver trocas de informação e colaboração permanentes entre as autoridades de segurança dos países. Ou essas multinacionais do crime continuarão desafiando os governos e o estado democrático de direito.