Quarta-feira, 07 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 17 de novembro de 2019
Fica difícil imaginar, com uma carreira tão prolífica e longa, algo que sir Ian McKellen, de 80 anos, e dame Helen Mirren, de 74, não tenham feito. Mas, por incrível que pareça, em seus currículos ainda faltava um filme juntos. Pois não falta mais: os dois dividem os créditos do suspense “A grande mentira”, que chega aos cinemas nesta quinta-feira.
“As pessoas procuram esse tipo de filme porque eles exploram comportamentos que, na vida real, reprovamos”, avalia o diretor. “O cinema te dá essa segurança de viver aquilo através da mentira. Não que isso não exista na vida real. Veja nosso presidente, ele é o maior mentiroso de todos.”
Mas o maior atrativo do longa é mesmo a parceria entre estes dois grandes atores e a verve cômica de McKellen. A entrevista aconteceu em um hotel em Nova York. Ela trajava um vestido rosa-choque e, como boa inglesa, tomava chá. Ele, um paletó azul marinho, camisa acinzentada e um cachecol vermelho. Antes de se sentar, o ator fez questão de apertar a mão de cada um dos presentes, para então deliciar a todos com suas tiradas e o modo teatral de se expressar. Durante trinta minutos, falaram sobre um trabalho em conjunto na Broadway, logo após o 11 de setembro, e sobre o ofício do mentiroso. Leia abaixo os principais trechos.
1) O jogo de gato e rato em “A grande mentira” e a narrativa do nazismo são pano de fundo para uma discussão mais profunda?
Ian McKellen: Eu acho que o filme foi feito apenas para entreter e deixar as pessoas intrigadas. Se isso não funciona, aí tem algum problema. Mas é importante que ele tenha laços com a realidade, para que seja crível.
Helen Mirren: Eu acho ainda que o filme mostra que as coisas do nosso passado às vezes nos fazem perder o chão. Somos muito bons em esquecer o passado, as coisas ruins que fizemos, os dissabores. Somos tão autocentrados que nos tornamos especialistas em dar desculpas. E esse filme mostra como suas ações do passado vão te procurar e encontrar, de uma forma ou de outra.
2) Você acredita nisso?
H.M.: Sim, acredito. Mesmo que não seja em público ou que ninguém nunca te cobre sobre aquilo, você vai se encontrar em uma situação em que precisará tirar satisfação consigo mesmo. Você nunca se esquece de suas ações. Eu, pelo menos, não esqueço.
I.M.: Eu tenho pena daqueles dois personagens. Porque com a idade que eles têm, ainda não conseguiram encontrar a tranquilidade de um sol nascente, de um banco de praça, de um jardim com cães, amigos e família… Enfim, que lamentável ainda estar lutando. Pobre garota.
3) Quando se interpreta alguém que está enganando outra pessoa, você acredita por algum momento no mentiroso?
H.M.: Você tem que acreditar naquilo. O filme capta tudo microscopicamente. É muito esquisito, pois você pode fazer coisas grandiosas e as pessoas não percebem. E então faz algo mínimo, e o público nota. Eu até hoje não consigo perceber qual é a perspectiva do filme. Por que certas coisas funcionam e outras, não. Você não pode correr o risco de interpretar nada além do que aquilo que você quer que o público acredite.
I.M.: E o mais difícil é não apenas mentir e fingir que você é algo que não é, mas receber a informação completa que está no roteiro e fingir que não sabe a história por trás.