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Por Redação O Sul | 27 de junho de 2020
Nas últimas duas semanas, os Estados Unidos voltaram a registrar aumento de casos de coronavírus em algumas de suas localidades, enquanto o país começava a flexibilizar medidas de isolamento social. As regiões com maior presença da população latina têm sido as mais afetadas.
Os condados em que os latinos representam ao menos um quarto da população verificaram crescimento de 32% de infectados frente a 15% nos demais, segundo um levantamento do jornal americano The New York Times. Embora não haja evidências de que algum grupo étnico ou racial é mais vulnerável ao vírus, as estatísticas expõem, em parte, a composição da força de trabalho no país.
No geral, os latinos constituem 34% dos casos nos EUA, percentual bem superior aos 18% que o grupo representa da população total, de acordo com dados do Centro de Controle e Prevenção de Doenças.
As possíveis explicações variam desde especificidades das regiões mais impactadas, como existência de lares mais cheios, a questões socioeconômicas. O principal fator apontado é que muitos latinos trabalham em setores da economia que não pararam e nos quais a exposição é maior.
O confinamento nunca foi realidade de várias famílias latinas. A operadora de máquina Graciela Ramírez, de 40 anos, continuou trabalhando na fábrica da Ruiz Foods, líder do mercado de burritos nos EUA, em plena pandemia. Ela precisava dos US$ 750 dólares que ganha por semana, para sustentar seus quatro filhos.
A empresa comunicou a seus funcionários que aqueles que se sentissem desprotegidos poderiam ficar em casa. Mas sem remuneração. Não demorou para que o vírus se espalhasse na fábrica. Logo atingiu Ramírez. Ela testou positivo após perder o olfato e apresentar dores no corpo. A operadora acredita que tenha sido infectada no refeitório, onde costumava haver aglomeração.
Pouco depois, sua filha Cynthia Orozco, de 20 anos, recebeu o diagnóstico de que também fora infectada. Como a estudante cuida dos outros dois filhos mais novos, o médico lhes afirmou que também deveriam estar contaminados.
“Eu tenho necessidades. Minha comida, minha renda, minhas contas”, disse Ramírez ao NYT. “Muitos de nós não acreditávamos na Covid-19 no início. Eu não acreditei, porque não tinha visto ninguém que teve a doença até que eu contraí”, acrescentou.
Sua situação se assemelha à da maioria dos latinos no país, que trabalham como agricultores, funcionários de supermercados ou de hospitais, operadores em indústrias e em outros trabalhos considerados essenciais. Expostos ao risco, levaram o vírus para dentro de suas casas.
Na Califórnia, onde vive Ramírez, a comunidade latina integra 39% da população, mas simboliza 57% dos novos casos de Covid-19. O estado decretou o uso obrigatório de máscaras durante atividades em público devido ao aumento no número de infectados. A decisão ocorreu no mesmo período em que seus condados começaram a afrouxar a quarentena.
Mesmo nas regiões onde a presença a latina é menor, notou-se que o grupo apresentou taxas de contaminação maiores. Na Carolina do Norte, a comunidade soma 10% da população, mas engloba 46% dos infectados. Já em Wiisconsin, apesar de equivalerem a 7% da população, respondem por 33% dos casos. E no condado de Santa Cruz, que detém a taxa mais alta do Arizona, a proporção hispânica é de 84%.
O cenário retrata ainda que metrópoles como Nova York e Chicago, por exemplo, estão deixando de ser o foco do surto da doença, que tem alcançado povoados mais afastados dos grandes centros.
Um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade da Califórnia é um dos que melhor ilustra a disseminação do coronavírus na comunidade latina. Os investigadores avaliaram 4 mil voluntários de um distrito de San Francisco, divididos igualmente entre brancos e hispânicos. O resultado mostrou que quase todos os infectados eram latinos – menos de 1% eram brancos.