Sábado, 15 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 9 de maio de 2018
A PF (Polícia Federal) já tem provas de que houve vazamento de informações na Operação Câmbio, Desligo, que prendeu dezenas de doleiros. Patrícia Matalon teve a prisão decretada na semana passada junto com outros 46 doleiros, mas, na noite anterior à operação, ela conseguiu escapar. A mulher faz parte de uma das famílias mais tradicionais no mercado de câmbio ilegal de São Paulo. Uma gravação telefônica, feita com autorização da Justiça, revela que 20 dias antes da operação, outros suspeitos conversavam sobre a possibilidade de serem presos.
A polícia monitorou conversas de Marcelo Rezinski, que foi preso, e a mulher dele. Delatores contaram que Marcelo Rezinski e o irmão Roberto movimentaram cerca de R$ 40 milhões no banco clandestino dos doleiros. No dia 13 de abril, às 11h31min, Marcelo fala ao telefone e pergunta para a mulher:
Marcelo: Sabe quem também vai ficar um tempinho preso?
Cinthia: Quem?
Marcelo: O Dadá.
Cinthia: Mas de novo.
Marcelo: De novo não, ele nunca foi, né, cara.
Na conversa, Marcelo diz que tinha falado com Dadá de manhã. Mas a prisão dele também não foi desta vez. Dadá é Dario Messer, considerado o doleiro dos doleiros e o criador do banco clandestino. A polícia não encontrou Messer nem na cobertura no Leblon, na Zona Sul do Rio, nem na casa dele no Paraguai. Ele também já foi investigado nos esquemas do Banestado e do Mensalão. No primeiro caso, foi descoberta uma movimentação de R$ 8 bilhões de forma irregular entre 1996 e 2002 ligada ao doleiro. Já no escândalo do “Mensalão”, a PF apontou o doleiro como responsável por enviar US$ 1 bilhão de forma irregular para o exterior e entregar o dinheiro, em reais, no Banco Rural.
O que dizem os citados
O advogado de Dario Messer disse que só vai manifestar na Justiça. A reportagem não conseguiu contato com as defesas dos irmãos Marcelo e Roberto Rezinski nem de Patrícia Matalon.
Dólar-cabo
Os suspeitos usavam um sistema chamado Bank Drop, no qual doleiros remetem recursos ao exterior através de uma ação conhecida como “dólar-cabo”. Trata-se de um câmbio que envolve depósitos em contas em diferentes países, mas o dinheiro não é rastreável pelo Banco Central: doleiros recebem no Brasil e compensam em contas no exterior. Por não haver remessa, muito menos registro, o montante escapa das autoridades e dos impostos.
Segundo a polícia, eram 3 mil empresas offshore em 52 países, que movimentavam US$ 1,6 bilhão (R$ 5,6 bilhões). As empresas ficam em paraísos fiscais e são usadas para ocultar o verdadeiro dono do patrimônio depositado em uma conta.
A operação teve como base a delação do doleiro Vinícius Vieira Barreto Claret, o Juca Bala, e Cláudio Fernando Barbosa, o Tony. Os dois trabalhavam para a organização criminosa chefiada pelo ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral e foram presos pela Lava-Jato no Uruguai e trazidos para o Brasil.