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Por Redação O Sul | 27 de julho de 2018
A PF (Polícia Federal) apreendeu R$ 373 mil em dinheiro vivo na cidade de Recife (PE), na casa da auditora da Receita Federal Mércia Trajano. Ex-conselheira do Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais), ela é apontada como cúmplice em um esquema que teria favorecido a empresa Paranapanema a se livrar do pagamento de R$ 650 milhões em um processo.
Márcia foi alvo de buscas na décima etapa da Operação Zelotes, que teve como principais personagens o economista Roberto Gianetti, ligado ao PSDB, e Daniel Godinho, ex-secretário de Comércio Exterior durante o governo da então presidenta Dilma Rousseff (2011-2016). Ela atuou no caso da Paranapanema, votando favoravelmente à empresa.
A ex-conselheira, que tinha o apelido de “amiga dos memoriais”, trocou mensagens com os investigados Meigan Sack e Vladimir Spíndola sobre o processo em que atuaria no Carf. Meigan e Spíndola receberam cerca de R$ 2,2 milhões da empresa de Giannetti e são investigados sob a suspeita de terem pago propina aos conselheiros que atuaram no caso, dentre eles Mércia Trajano.
As investigações apontam, ainda, que Meigan e Spíndola contavam com a atuação de Mércia para votar favoravelmente à Paranapanema no processo, ainda mais após a sua ascensão à presidência da turma do Carf que julgou o processo em 2013.
“Tiro certo”
Em um e-mail com data de 20 de maio daquele ano, Meigan comenta com Spíndola sobre a possibilidade de Mércia assumir a turma e comemora: “Acho que o cenário vai mudar bastante. Esse processo não sai nem que o Daniel [conselheiro relator do caso no Carf] queira muito, pois a PGFN [Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional] deve ter em conta o tiro certo que deve dar com ele, tanto na jurisprudência que irá deixar, como a que não terá para recorrer”.
O texto prossegue: “De qualquer sorte, creio que teremos novo relator e presidente e acho que sei quem pode ser a presidente. A minha amiga! A dos memoriais!. ‘Estou te escrevendo porque um grande amigo (e só um grande amigo para me pedir um favor assim, e só sendo uma matéria interessante e só um bom direito) do contrário jamais te pediria para dar uma lida nos memoriais que estou te mandando’
A PF também interceptou um e-mail de 26 de abril em que Meigan pede a Mércia para prestar um favor a “um grande amigo”: “Eu estou te escrevendo porque um grande amigo (e só um grande amigo para me pedir um favor assim, e só sendo uma matéria interessante e só um bom direito) do contrário jamais te pediria para dar uma lida nos memoriais que estou te mandando”.
Em anexo, estava um memorial relativo ao processo da Paranapanema. Posteriormente, conforme revelou a investigação, as duas se encontraram em um hotel onde a ex-conselheira do Carf estava hospedada, a suspeita da PF e do MPF (Ministério Público Federal) é de que a reunião serviu para acertar detalhes do suborno pago a Mércia.
Em outra mensagem interceptada pelos investigadores, enviada em abril de 2013, o sócio de Spíndola, Wagner Brito, afirma que Mércia votaria a favor da empresa, o que de fato veio a acontecer no julgamento do caso no Carf. Mércia deixou o tribunal da Receita em 2017, quando venceu seu mandato.
O nome dela já havia aparecido em outras etapas da Zelotes por suspeita de envolvimento em fraudes em outros processos do tribunal da Receita. Na avaliação dos investigadores o montante em espécie apreendido na casa da ex-conselheira é um dos indícios que reforça a tese de que ela recebeu propina.