O aumento na cotação da Bolsa de Valores, hoje, é apenas um suspiro pós-anúncio da aceitação do pedido de impeachment. Não diminui o volume de demissões de empregados nem as dificuldades de empresários em pagar a folha de salários diante da queda no faturamento. Para as duas circunstâncias indesejadas, os políticos viram as costas.
Quem paga o preço das sucessivas irresponsabilidades na gestão pública é a população. O líder do governo no Senado, Delcídio Amaral, está na prisão; o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, frequenta o noticiário policial, e a presidente Dilma enfrenta a constrangedora ameaça da perda do mandato.
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Alguns tentam comparar a situação de Fernando Collor com a de hoje. Há pelo menos três diferenças:
- o presidente em 1992 era do PRN, um partido pequeno. O PT, apesar da crise da Operação Lava Jato, é o segundo maior do País, só ficando atrás do PMDB.
- Collor foi ejetado com a evidência de uma nota fiscal do Fiat Elba, prova prosaica, mas clara. Agora, o julgamento das pedaladas fiscais pelo Tribunal de Contas da União é muito mais complexo.
- Não há possibilidade, em eventual troca na presidência da República, de um governo de união nacional, como Itamar Franco conseguiu. Os ânimos estão extremamente acirrados e o PT jamais aceitaria alguma conciliação. Irá às ruas para manter-se no poder.
Outras observações:
- a campanha eleitoral às prefeituras e câmaras municipais, no próximo ano, será mais centrada em temas nacionais do que locais.
- As discussões no Congresso, começando pelo pedido de impeachment, como sempre serão políticas e não jurídicas.
- A presidente Dilma terá de insistir no corte profundo de gastos, prática nada usual nos governos, além de tentar aumentar tributos. A recriação da CPMF tem a ficha número 1. Será um caminho difícil para evitar o indesejado desastre fiscal.