Quarta-feira, 02 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 5 de julho de 2024
O Brasil enfrenta o Uruguai neste sábado, às 22h.
Foto: Rafael Ribeiro/CBFO melhor momento da Seleção Brasileira nesta Copa América se deu depois do apito final do empate contra a Colômbia: jogadores conversando amistosamente com seus adversários. Vini sorrindo ao lado de Muñoz — o autor do gol colombiano e seu rival em duelos individuais ao longo da partida —, camisas trocadas, camaradagem. Uma demonstração de civilidade e sobretudo, de maturidade. Nada a ver com a exibição que deixou o Brasil em segundo lugar no Grupo C do torneio, e teve como consequência um confronto muito mais difícil nas quartas de final: poderia ser o Panamá, será o Uruguai.
Este foi apenas o terceiro jogo oficial com Dorival Júnior no banco da Seleção. Poderia ser o triplo disso se a CBF não tivesse escolhido desperdiçar um ano com dois técnicos interinos e um fictício. As tais “garantias legais” que supostamente amarravam Carlo Ancelotti à seleção nunca apareceram, o que só provam sua inexistência. Mais ou menos como o dragão na garagem inventado pelo astrônomo Carl Sagan (1934-1996) no livro “O Mundo Assombrado pelos Demônios”. Um dragão flutuante, que não deixa pegadas, cospe fogo desprovido de calor, é invisível e incorpóreo. Mas que existe, sim, claro que existe. Basta acreditar.
De volta a Brasil x Colômbia: as oscilações, a falta de padrões táticos definidos e de coordenação de movimentos são normais e esperadas neste início de trabalho. Especialmente se do outro lado estiver um rival sólido, agora com 26 partidas de invencibilidade. O trio de meias formado por João Gomes, Bruno Guimarães e Lucas Paquetá, que tão bem jogou no amistoso contra a Inglaterra, em Wembley, três meses antes, não funcionou contra a Colômbia. Rodrygo ainda parece estar procurando seu lugar como falso 9. Com dificuldade para sair jogando de maneira mais elaborada, o Brasil preferiu ligações diretas para os pontas, o que resultou em posses curtas e um jogo descontrolado.
Ajustes serão necessários para o jogo contra o Uruguai, em que o Brasil entra naturalmente como favorito por seu inigualável excesso de talento. Mas a principal correção a ser feita na seleção brasileira não é de ordem tática ou técnica: é de comportamento. Não deveria ser normal jogadores experientes como os da seleção socando o gramado por discordarem de uma marcação da arbitragem, ou o capitão Danilo se dirigindo até as arquibancadas para bater boca com um torcedor. É certo que 2023 foi um ano horrível, que em 2026 o Brasil vai chegar à Copa do Mundo com os mesmos 24 anos de fila de 1970-1994, mas absolutamente nada disso é culpa de Dorival ou desses jogadores.
Este time às vezes parece atormentado por uma mensagem equivocada, difusa — da mesma matriz de “Libertadores é guerra” e outras bobagens que só resultaram em frustrações — e que se manifesta inadvertidamente quando o lateral Yan Couto conta numa entrevista que tirou a tintura rosa do cabelo por ordem de alguém (não especificado) da CBF: “Falaram que rosa é meio vacilão”. Um discurso mofado, que alimenta inimigos imaginários, acrescenta um peso que não precisa ser carregado e contrasta com tudo de bom que a seleção brasileira sempre ofereceu.
Texto originalmente divulgado na coluna de Martín Fernandez, em O Globo.