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Por Redação O Sul | 15 de maio de 2020
A saída de Nelson Teich do Ministério da Saúde, nessa sexta-feira (15), repercutiu de forma muito negativa entre as comunidades médica e científica. Para a maioria, a exoneração comprova o despreparo do governo brasileiro para lidar com uma pandemia de tamanha gravidade.
Em nota, o CNS (Conselho Nacional de Saúde) repudiou o caos na gestão do Ministério da Saúde:
“Não bastasse a demissão do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta há menos de um mês, em meio à pandemia do novo coronavírus, agora, assistimos perplexos à saída de Nelson Teich, que o substituiu. O motivo é o mesmo: divergência do ministro com o presidente da república quanto à importância vital das medidas de distanciamento social implementadas em todo o Brasil, a reabertura sem fundamentos de serviços não essenciais, além da divergência quanto ao uso da cloroquina, que deve ser utilizada somente sob prescrição médica.”
Segundo Ildeu de Castro Moreira, presidente da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), o momento é de gravíssima crise na saúde e a mudança de ministros gera inseguranças e incertezas na política nacional.
“Em meio a uma pandemia que está afetando e matando milhares de brasileiros, as orientações e direcionamentos deveriam ter no Ministério da Saúde e no governo federal a liderança. Infelizmente, não é o que temos visto. Além de conflitos de ordem política miúda, tais medidas e programas emergenciais deveriam estar escorados nas orientações dos profissionais da saúde, da ciência, dos organismos internacionais e nacionais qualificados. Não adianta trocar ministro, secretários ou outros gestores, se as políticas adotadas visarem a interesses menores e mal informados e não à preocupação genuína com a vida e a sobrevivência dos brasileiros”, alertou.
Neurocientista e colunista do O Globo, Roberto Lent classificou o ocorrido como “um crime contra a vida”. Para ele, a demissão de dois ministros da Saúde em meio a uma pandemia revela uma terrível incapacidade de conduzir o País com tranquilidade, ponderação e responsabilidade.
“A saída dessa crise sanitária sem precedentes depende de políticas públicas baseadas na ciência. Isso tem se revelado verdadeiro em todo o mundo. A pretensão voluntarista de impor soluções improvisadas pode custar milhares de vidas a mais brasileiros”, disse.
O presidente do Cremerj (Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro), Sylvio Provenzano, lamentou a saída precoce de Nelson Teich, “afinal, o tempo foi curto demais para ele ser julgado e avaliado em suas atribuições como ministro”. Para ele, a razão maior para o pedido de demissão foi ter sido contrário ao uso da hidroxicloroquina.
“Em meio a uma pandemia, qualquer atraso, nas ações de combate, são muito prejudiciais”, ressaltou.
Para Alberto Chebabo, vice-presidente da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), “a saída de Teich é uma catástrofe. Termos que mudar dois ministros em meio à pandemia, mostra uma total falta de comando para enfrentamento dessa epidemia no País”.
De acordo com a Dra. Gulnar Azevedo, médica sanitarista e presidente da Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva), “é uma vergonha termos um presidente que diz o que diz, que vai na contramão de todos os outros países e insiste no uso de um remédio que ainda não tem eficácia comprovada. Infelizmente o Brasil vai se tornar, muito em breve, o epicentro da pandemia se continuarmos seguindo as recomendações do presidente”.
“Para o Brasil, isso é péssimo. Estamos em plena pandemia, com o número de casos e de vítimas fatais subindo. Sobre o ex-ministro Nelson Teich, acredito que ele agiu de acordo com a consciência. É um profissional respeitado em sua área e não quis “sujar” sua história, aceitando um protocolo de inclusão da cloroquina. O ex-ministro agiu de acordo com as evidências científicas, não com ‘achismos'”, lembrou o infectologista Dr. Leonardo Weissmann.