Domingo, 21 de setembro de 2025
Por Redação O Sul | 6 de julho de 2019
Nas últimas décadas, tem havido um interesse crescente na relação entre morar sozinho e transtornos mentais comuns, em particular a presença de depressão e ansiedade. Globalmente, a prevalência ao longo da vida dos TMC (transtornos mentais comuns) é de cerca de 30%.
Mais grave ainda, este tipo de transtorno do humor têm um grande impacto na qualidade de vida, no surgimento de doenças físicas, na mortalidade e até econômico. Outro aspecto é que em muitos locais, a proporção de indivíduos que moram sozinhos está aumentando devido a fatores como o envelhecimento da população, menores taxas de casamento e maiores taxas de divórcio.
No Reino Unido a extensão e impacto da solidão é tal que recentemente criaram o cargo de ministro da solidão para enfrentar o problema. Um estudo liderado por pesquisador da Universidade de Versalhes na França procurou avaliar a associação entre morar sozinho e TMC e os fatores que podem estar por trás dessa associação.
Os resultados tem clara implicação na identificação de populações vulneráveis e no estabelecimento de estratégias efetivas para melhorar a saúde mental desta população. Os autores da pesquisa usaram dados das Pesquisas Nacionais de Morbidade Psiquiátrica de 1993, 2000 e 2007, do Reino Unido.
Mais de 20 mil pessoas foram avaliadas. Os TMC foram avaliados usando o “Clinical Interview Schedule-Revised” (CIS-R), um questionário focado na ocorrência de sintomas psiquiátricos na semana anterior à da entrevista. Solidão foi avaliado por meio de outro instrumento (SFQ) que avaliou a percepção do indivíduo de sentir-se nas 2 últimas semanas.
Vamos aos resultados. A prevalência dos que moravam sozinhos variou de 8,8% a 10,7% entre 1993 e 2007. Do mesmo modo, a prevalência de TMC oscilou entre 20 e 25% neste intervalo. Mas o resultado mais interessante mostra que morar sozinho aumentou entre 63% e 88% o risco de TMC. No geral, a solidão explicou 84% da associação morar sozinho com TMC, ou seja, foi o fator mais significativo para explicar esta triste associação.
A magnitude da associação permaneceu relativamente estável entre 1993 e 2007. Esta associação foi observada em todas as faixas etárias, incluindo adultos jovens e de ambos os sexos. O resultado da pesquisa reforça e amplia o conhecimento de estudos prévios.
A explicação está no modo como a pessoa solitária vive e age. Ruminação do pensamento, avaliação negativa dos vínculos sociais, desregulação imunológica e até a presença de vícios são usados nas explicações da relação entre morar sozinho e depressão.
Para ficar num exemplo, pesquisadores já haviam observado que o isolamento social referido aumenta o risco de desregulação imunológica, e tanto a supressão quanto a ativação imunológica são conhecidas como características-chave da depressão e de outros transtornos mentais.
O que fazer? Promover ou minimizar a solidão das pessoas. Dentre as intervenções previamente relatadas para diminuir os níveis de solidão estão intervenções de facilitação social, terapias psicológicas, prestação de cuidados de saúde e sociais, intervenções com animais e desenvolvimento de lazer/habilidades.
Novos estudos devem trazer mais luz neste aspecto, mas a mensagem é clara: solidão combina com depressão. E nem um dos dois é legal. (Alexandre Faisal, ginecologista-obstetra, pós-doutor pela USP e pesquisador científico do Departamento de Medicina Preventiva da FMUSP.)