Quarta-feira, 15 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 1 de junho de 2018
“Acabou a influência política na Petrobras”, disse Pedro Parente, há exatamente dois anos, no dia 1º de junho de 2016, durante sua cerimônia de posse como presidente da estatal. Naquele dia, ele não chegou a falar se haveria mudança na composição dos preços de combustíveis, mas afirmou que aquela passaria a ser uma “decisão empresarial”.
Na manhã desta sexta-feira (1º), após a crise aberta pela paralisação de caminhoneiros e depois de flexibilizar, a pedido do governo, a política de preços que colocou em vigor na estatal, Parente pediu demissão do cargo.
Membros do governo, como o ministro de Minas e Energia, Moreira Franco, defenderam publicamente uma revisão do sistema de preços e senadores e chegaram a cobrar no plenário que ele fosse demitido.
“Se o Pedro Parente não aceitar rever a política de reajuste, que ele saia da Petrobras, ou o presidente da República exerça o mínimo de autoridade. Um governo minimamente sólido já o teria demitido”, disse Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) em entrevista na semana passada.
Apenas meses antes, o cenário era oposto: diante da melhora dos indicadores financeiros da Petrobras, Parente chegou a ser aventado como possível candidato à Presidência, um nome que uniria a centro-direita nas eleições de outubro.
Sarney, Collor e “ministro do apagão” de FHC
Engenheiro, Parente foi funcionário da área contábil do Banco Central e, no governo Sarney, foi convidado por Andrea Calabi, então secretário do Ministério do Planejamento, para ir à recém-criada Secretaria do Tesouro Nacional.
Em 1991, já no governo Collor, o técnico assumiu a secretaria de Planejamento do então Ministério da Economia, Fazenda e Planejamento, onde assumiu a elaboração e execução do orçamento da União.
Depois do processo de impeachment e posterior renúncia de Collor, Parente foi para o exterior e ficou no FMI (Fundo Monetário Internacional) até 1993.
Ele estreou no governo Fernando Henrique Cardoso no Ministério da Fazenda, como secretário-executivo da pasta, chefiada então por Pedro Malan.
Clóvis Carvalho, um dos fundadores do PSDB e ex-ministro da Casa Civil de FHC, lembra que os tucanos queriam trazê-lo para o governo desde a gestão de Itamar Franco, mas Itamar resistia em incorporar à sua equipe antigos quadros do governo Collor.
Como secretário-executivo da Fazenda, ele assumiu a renegociação da dívida dos Estados – que, naquela época, ficaram proibidas de emitir título de dívida – e trabalhou na implantação do Plano Real.
De saída da Casa Civil, Carvalho sugeriu a FHC que Parente o sucedesse na pasta. Além de se dar bem com Malan – e a relação entre Fazenda e Casa Civil é geralmente difícil, já que a função de um é “pedir” e a de outro, “fechar as torneiras” –, ele também se dava bem com o Congresso, especialmente com Antônio Carlos Magalhães.
Também era o PFL que controlava naquela época o Ministério de Minas e Energia, e o trânsito de Parente no partido foi fundamental para que ele conseguisse colocar em práticas as medidas para controlar a crise energética em 2001.
A solução passou por um rigoroso e amplo racionamento, pelo investimento em linhas de transmissão de energia – para ligar os reservatórios a áreas mais distantes –, por projetos de novas hidrelétricas na região da Amazônia e pela construção de usinas termelétricas, que produzem energia menos limpa e mais cara, mas que podem ser acionadas em períodos de escassez nos reservatórios.
Petrobras, interferências de governos e a política de preços
Passados quase 15 anos – durante os quais foi vice-presidente executivo do grupo RBS (2003 a 2009) e CEO da Bunge (2010 a 2015), empresa do setor de agronegócio –, Parente foi chamado novamente para debelar uma crise, desta vez na Petrobras.
Aos 63 anos, o carioca substituía Aldemir Bendine – que havia renunciado ao cargo e que seria preso um ano depois, no âmbito da operação Lava-Jato – e se deparava com uma das maiores crises pelas quais a companhia havia passado desde sua fundação, em 1953.
O valor do combustível que saía das refinarias da empresa passou a acompanhar o mercado externo – ou seja, a se pautar pela variação do câmbio e da cotação do barril de petróleo.
A Petrobras teve prejuízos em 2014 (R$ 21,9 bilhões), 2015 (R$ 34,8 bilhões), 2016 (R$ 14,8 bilhões) e 2017 (R$ 446 milhões). No primeiro trimestre de 2018, pela primeira vez desde o início da operação Lava-Jato, ela apresentou lucro, de R$ 6,9 bilhões, e distribuiu dividendos depois de quatro anos sem remunerar seus acionistas.
Começava, no entanto, o pior momento de Parente na estatal desde que assumira o cargo.
A escalada de preços da gasolina e do diesel que catalisou a greve de caminhoneiros também gerou uma enxurrada de críticas à política de preços adotada há dois anos pela companhia, que busca a paridade com preços internacionais.