Domingo, 16 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 29 de dezembro de 2015
Muitas já morreram e a mais jovem tem hoje 88 anos. Mas, há décadas, as memórias destas mulheres formam uma triste barreira nas relações do Japão com vários de seus vizinhos asiáticos. Conhecidas mundo afora como “mulheres de conforto”, elas foram tratadas como escravas sexuais a serviço dos soldados japoneses durante a Segunda Guerra Mundial.
A imensa maioria era de sul-coreanas: estima-se que o total chegou a 200 mil, mas hoje apenas 46 delas estão vivas na Coreia do Sul. Ainda que as primeiras denúncias tenham vindo à luz em 1981, o Japão só reconheceu o uso de bordéis de guerra 12 anos mais tarde. Em 2007, Tóquio ofereceu desculpas ao país.
Só na segunda-feira, entretanto, autoridades do Japão e da Coreia do Sul enfim selaram um acordo que inclui um fundo de compensação de 8,3 milhões de dólares (cerca de 32 milhões de reais) para apoiar as sobreviventes.
“O primeiro-ministro [japonês Shinzo] Abe expressa novamente suas mais sinceras desculpas e arrependimento a todas as mulheres que sofreram incomensuráveis e dolorosas experiências e sofreram feridas psicológicas e físicas incuráveis como ‘mulheres de conforto’”, disse, em Seul, na Coreia do Sul, o ministro de Relações Exteriores do Japão, Fumio Kishida.
Segundo o acordo, a Coreia se comprometeria a dar o assunto por encerrado “final e irreversivelmente”. O país também diz que considera retirar uma estátua em homenagem às escravas sexuais, localizada em frente à embaixada japonesa em Seul.
“Matadouro”.

Sul-coreana Lee Ok-seon, 88 anos, disse que tinha 15 quando foi raptada. (Foto: Reprodução)
Muitas dessas mulheres morreram dentro dos bordéis. A maioria delas vive hoje em um retiro para idosos, que se tornou com o tempo uma espécie de museu vivo de sofrimento. A casa se destaca pelas estátuas e placas que contam as histórias das habitantes.
A sul-coreana Lee Ok-seon, 88 anos, disse que tinha 15 quando foi raptada e levada à força ao noroeste da China, que estava na época sob controle japonês. No momento do sequestro, ela trabalhava como empregada doméstica em um bairro distante de casa.
Na China, foi escravizada sexualmente durante três anos em uma das “estações de conforto” instaladas pelo exército japonês.
Mulheres da China, Filipinas, Indonésia e Taiwan também foram levadas para esses locais, mas em grupos bem menores. Na época, o território coreano estava ocupado pelo exército do Japão – era a familiaridade de suas nativas com o idioma japonês que as tornava particularmente atrativas para os “recrutadores” do exército.
Mas não era a possibilidade de uma conversa que atraía a maioria dos militares. “Era como um matadouro, não para animais, mas para humanos. Ali se faziam coisas horríveis”, disse Lee, enquanto mostrava cicatrizes nos braços e nas pernas – todas, segundo ela, produto de punhaladas.
Anos de espera.
Nas numerosas vezes em que tentou fugir do bordel, Lee perdeu parte de sua capacidade auditiva e alguns dentes. Segundo um voluntário da casa de repouso, outras lesões da época também a deixaram estéril.
O acordo foi anunciado, em Seul, pelos ministros de relações exteriores do Japão e Coreia do Sul. O presidente sul-coreano, Park Geun-hye, havia pedido no início do ano que o assunto tivesse uma solução até o fim de 2015, quando se comemoram 50 anos do reestabelecimento de relações diplomáticas entre Japão e Coreia do Sul.