Sexta-feira, 06 de junho de 2025
Por Redação O Sul | 4 de junho de 2025
Relator da ação, o ministro Alexandre de Moraes repreendeu algumas testemunhas durante os depoimentos
Foto: Antonio Augusto/STFO Supremo Tribunal Federal (STF) tornou públicos os vídeos dos depoimentos das 52 testemunhas de defesa e acusação ouvidas na ação penal contra o “núcleo crucial” do golpe – o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) é um dos réus. As gravações foram liberadas após a conclusão desta fase de oitivas, anteontem. Na próxima semana começam os interrogatórios dos réus.
Relator da ação, o ministro Alexandre de Moraes repreendeu o ex-comandante do Exército, general Marco Antônio Freire Gomes, durante depoimento prestado no último dia 19. O magistrado afirmou que o militar tinha mudado a versão dada à Polícia Federal (PF) segundo a qual o ex-comandante da Marinha, almirante Almir Garnier Santos, concordou com o plano de golpe.
“A testemunha, ela não pode omitir o que sabe, então vou dar aqui uma chance à testemunha de falar a verdade. Se mentiu na polícia, tem que dizer que mentiu na polícia. Não pode agora, perante o Supremo Tribunal Federal, falar que não lembra”, disse Moraes. “Comandante, ou o senhor falseou a verdade na polícia ou está falseando aqui.”
O general negou ter mudado de versão e disse apenas não ser capaz de inferir a intenção de Garnier ao declarar que estava “à disposição” de Bolsonaro na reunião em que foi apresentada minuta golpista.
Em sessão do dia 23 de maio, Moraes discutiu com o ex-ministro da Defesa Aldo Rebelo e o ameaçou com voz de prisão. O bate-boca começou após Rebelo dizer que a frase de Garnier – sobre “deixar à disposição” de Bolsonaro as tropas – não poderia “ser lida literalmente”.
“Na língua portuguesa, usamos a força da expressão. A força da expressão nunca pode ser tomada literalmente. Quando alguém diz ‘estou frito’ não quer dizer que está numa frigideira”, afirmou Rebelo.
Moraes rebateu: “O senhor estava na reunião quando o almirante Garnier falou essa expressão? Então, o senhor não tem condição de avaliar a língua portuguesa naquele momento. Atenha-se aos fatos.”
O ex-ministro prosseguiu: “A minha apreciação da língua portuguesa é minha e não admito censura”. Moraes então ameaçou prendê-lo. “Se o senhor não se comportar, o senhor vai ser preso por desacato”, respondeu o magistrado.
O relator também decidiu suprimir uma declaração do procurador-geral da República, Paulo Gonet, durante o depoimento de Rebelo. Na audiência, Gonet disse que “fez uma cagada” após dirigir uma pergunta ao depoente. O trecho deste áudio foi apagado. A ata que contém a transcrição do depoimento registra que a declaração do chefe do Ministério Público foi “cancelada”.
Na ocasião, Gonet perguntou se Rebelo acreditava que, sem adesão do Exército, a Marinha teria condições de promover uma ruptura de normalidade institucional. A defesa de Garnier reclamou de que aquela seria uma pergunta opinativa.
Moraes, então, solicitou que o procurador-geral refizesse o questionamento. Pensando ter o microfone silenciado, o áudio de Gonet escapou. “Fiz uma ca****”, afirmou. As informações são do jornal O Globo.