Sábado, 18 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 22 de janeiro de 2018
Baleada na cabeça quando estava grávida de oito meses, durante um assalto em Belford Roxo em 13 de janeiro, Michelle Ramos da Silva Nascimento, de 33 anos, deixou, na tarde de anteontem, a UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) do Hospital Geral de Nova Iguaçu. Ela foi transferida para um quarto do Hospital de Clínicas Mário Lioni, em Duque de Caxias. Já o seu filho Antônio, que nasceu durante uma cesariana de emergência, continua internado em estado grave na Maternidade Mariana Bulhões, em Nova Iguaçu. Antônio respira com a ajuda de aparelhos.
Os casos de bala perdida se multiplicam em meio aos relatos de incidentes com armas. Um levantamento do aplicativo Fogo Cruzado, que registra disparos e tiroteios na Região Metropolitana do Rio, concluiu um relatório que quantifica a violência que tomou conta desses municípios. Com um total de 5.994 tiroteios ao longo do ano, a região teve uma média de 16 trocas de tiros por dia. O estudo mostra ainda que, na cidade do Rio, que terminou o ano com a maioria dos casos levantados (3.967), só cinco favelas, todas elas com UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora), concentram quase um quinto de todos os casos e somam 741 registros (19% do total).
As áreas com UPPs que mais registraram tiroteios entre todas são: Complexo do Alemão (193 casos), Cidade de Deus (190), Complexo do Lins (128), Vila Kennedy (127) e Mangueira (103). Os disparos nessas áreas, mapeados pelo aplicativo, deixaram 161 feridos e 73 mortos.
A coordenadora do aplicativo é a jornalista Cecília Oliveira, especialista em Segurança Pública e políticas de segurança. Desde o fim de 2015, a equipe vem monitorando incidentes no Estado, por meio de uma plataforma colaborativa.
Ocorrências subestimadas
Os dados são mapeados com base em informações repassadas pela população, pela polícia e divulgados pela imprensa. Cecília observou que o número de ocorrências é bem maior, já que nem todos os incidentes chegam ao conhecimento da equipe:
“O estudo mostra os reflexos, na área de Segurança, da crise política e financeira do Estado. O fato de a maioria dos tiroteios ocorrer em áreas de UPPs mostra que o programa fracassou por falta de recursos. Por outro lado, o estado, em lugar de investir em inteligência policial para evitar a chegada de drogas e armas nas comunidades, voltou a adotar a estratégia do confronto.”
Especialista em Segurança Pública, Vinicius Cavalcante observa que o próprio perfil das comunidades — todas de grande porte — explicaria a quantidade de tiroteios. “Nessas comunidades, o tráfico se torna uma prática rentável. Isso atrai quadrilhas de outras facções interessadas em assumir o controle sobre a venda de drogas. E nesse cenário, encontra a PM sem recursos materiais e de pessoal.”
Praia da Reserva
Uma mulher foi baleada no abdômen no calçadão da Praia da Reserva, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, na manhã de domingo (21). O crime aconteceu na altura do posto 8, quando dois criminosos em uma motocicleta tentaram assaltar um PM (policial militar) que estava de folga. O policial contou que estava na areia da praia com a família quando o suspeito sentou ao lado dele e apontou a arma pedindo o cordão.
“Eu achei que era uma arma de brinquedo porque estava meio descascada. Ele arrancou meu cordão, tentou puxar meu anel. Ele também tentou pegar a bolsa que estava com a minha mãe e ela começou a gritar. Eu puxei a bolsa e corri atrás dele”, contou o policial, que preferiu não se identificar.
O PM, que estava de folga, disse ainda que não houve troca de tiros e que, no momento em que correu atrás do criminoso, ele virou para trás e soltou uma “rajada” com a arma. Um dos disparos acabou atingindo a jovem de 21 anos.
“Tinha um outro cara de moto esperando ele. Não teve troca de tiro. À praia estava cheia, eu estava com a minha família. Eu corri atrás porque pensei que a arma fosse de brinquedo”, explicou. A mulher ferida foi levada para o Hospital Lourenço Jorge, também na Barra da Tijuca.