Quinta-feira, 13 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 4 de janeiro de 2016
Paroquianos pagam o dízimo de suas igrejas pelo celular. Vendedores ambulantes carregam leitores móveis de cartão de crédito. Até mesmo o Museu do Abba, um santuário dedicado ao grupo pop dos anos 1970 que escreveu “Money, Money, Money”, considera o pagamento em dinheiro tão do século passado que não aceita mais cédulas e moedas.
Poucos lugares caminham rumo a um futuro sem cédulas tão rápido quanto a Suécia, que se tornou viciada na conveniência do pagamento com aplicativos ou cartão. Este país de tecnologia avançada, sede do serviço de streaming de música Spotify e do jogo Candy Crush, foi atraído pelas inovações dos meios de pagamento digital.
No Museu do Abba, “não queremos ficar para trás aceitando pagamento em dinheiro”, disse Bjorn Ulvaeus, antigo integrante da banda que transformou o legado do grupo pop em um império de negócios em expansão, incluindo o museu.
Nem todos estão aplaudindo. A adoção de pagamentos eletrônicos no país alarmou organizações de consumidores e críticos, que alertam quanto ao risco à privacidade e à crescente vulnerabilidade a sofisticados crimes cibernéticos. No ano passado, o número de casos de fraudes eletrônicas no país subiu para 140 mil, mais do que o dobro do registrado na década passada, de acordo com o Ministério da Justiça da Suécia.
Risco de maior endividamento.
Para os críticos, idosos e refugiados na Suécia que usam dinheiro podem ser marginalizados. E pessoas jovens que usam aplicativos para pagar por tudo ou para pegar empréstimos via celular correm o risco de se endividar. “Pode ser uma tendência, mas existe todo tipo de risco quando a sociedade começa a abandonar o uso de cédulas”, disse Bjorn Eriksson, um ex-diretor da polícia sueca e ex-presidente da Interpol.
Defensores como Ulvaeus, no entanto, citam a segurança como justificativa. Ele passou a usar apenas cartão e modalidades de pagamento eletrônico depois que o apartamento de seu filho em Estocolmo foi roubado duas vezes há alguns anos. Ulvaeus não carrega dinheiro. “Isso me fez pensar: o que aconteceria se vivêssemos numa sociedade sem cédulas, e os ladrões não pudessem vender o que roubaram?”
Cédulas e moedas representam apenas 2% da economia sueca, enquanto nos Estados Unidos são 7,7% e, na zona do euro, 10%. Em 2015, apenas 20% dos pagamentos de consumidores na Suécia foram feitos em dinheiro, comparado a uma média de 75% no restante do planeta, segundo a Euromonitor International.
Os cartões são o principal meio de pagamento na Suécia, com 2,4 bilhões de transações de crédito e débito em 2013. Há 15 anos, este número era de 213 milhões. Mas até o plástico já enfrenta competição, com um número crescente de aplicativos para o comércio no dia a dia.
Em mais da metade das agências dos maiores bancos do país as cédulas não são mantidas nem são aceitos depósitos em dinheiro. Os bancos dizem que estão economizando em segurança e eliminando incentivos ao roubo a bancos. O governo não interfere na tendência e se beneficia da arrecadação mais eficiente porque transações eletrônicas deixam rastro.
“Tudo fala a favor de uma sociedade sem cédulas”, diz Ulvaeus. Ele para para comprar um cachorro-quente. Na hora de pagar, porém, o leitor de cartão estava quebrado. “Lamento”, diz o vendedor. “Você terá de usar dinheiro”. (AG)