Domingo, 16 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 8 de junho de 2015
O futebol brasileiro entrará em uma semana decisiva, que poderá mudar os rumos da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) e dos clubes. Nesta segunda-feira (8), uma reunião na sede da instituição poderá se transformar no pontapé inicial para a criação de uma liga comandada pelos clubes para organizar as competições nacionais. Três dias depois, os presidentes de 27 federações se reunirão, também no Rio de Janeiro (RJ), para discutir mudanças no estatuto.
Em meio a tudo isso, começará na quinta-feira (11) a Copa América no Chile, deverá ser instalada no Senado a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do Futebol e também não está descartada a renúncia do presidente da CBF, Marco Polo Del Nero.
O ambiente do futebol brasileiro começou a entrar em ebulição depois da prisão na Suíça do ex-presidente da CBF José Maria Marin, envolvido em um esquema de corrupção na Fifa (entidade máxima do futebol), que levou outros seis cartolas para a cadeia. O dirigente é acusado de ter cometido vários crimes, entre eles o de receber propina nas negociações de contratos da Copa América e da Copa do Brasil.
Em Brasília (DF), o senador Romário (PSB-RJ) conseguiu assinaturas para a abertura da CPI, que depende agora apenas da indicação dos sete membros titulares e sete suplentes para ser instalada, o que deve acontecer nos próximos dias. Os dirigentes de clubes, então, aproveitaram o momento de enfraquecimento da CBF para começar a articular a criação de uma liga, independente da confederação.
Um dos líderes do movimento é o presidente do Atlético-PR, Mário Celso Petraglia. O grupo ganhou um apoio de peso. O ex-jogador Ronaldo bateu forte em Del Nero e chegou a pedir a renúncia imediata do dirigente. O governo federal também defende a criação da liga e o ministro do Esporte, George Hilton, tem percorrido o País se solidarizando aos clubes.
Acuado, o presidente da CBF resolveu buscar retaguarda em federações com pouca expressão, mas que têm poder para mantê-lo no cargo porque fazem parte do colégio eleitoral da entidade. É graças a essa base de apoio, inclusive, que ele pretende minar o seu mais novo adversário: o presidente da Federação Catarinense, Delfim Peixoto Filho. Vice mais velho da entidade, ele é o primeiro na linha sucessória da CBF. Assim, Del Nero já trabalha na mudança do estatuto para que o seu sucessor não seja Delfim.
Copa América
A Copa América começa no Chile sem a presença dos principais cartolas do continente. Três ex-membros do Comitê Executivo da Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol) estão presos: Marin, Eugenio Figueredo (uruguaio, ex-presidente da entidade) e Rafael Esquivel (venezuelano, presidente da federação do seu país e vice da Conmebol).
Outra ausência certa é a do ex-presidente da Conmebol Nicolás Leoz, que está em prisão domiciliar no Paraguai. Já a viagem de Del Nero ao Chile dependerá dos desdobramentos das reuniões que acontecerão a partir desta segunda-feira.
Poder
Empossado no dia 15 de abril, Del Nero esperava vida longa na CBF. Com o escândalo da Fifa, o cenário mudou. Del Nero percebeu que lutar contra a MP (medida provisória) dos Clubes o enfraqueceria. Na tentativa de não se indispor ainda mais com o governo, fortalecido com a crise na Fifa, Del Nero propõe, entre outras medidas, um mandato de quatro anos com direito a uma reeleição na CBF.
Atiçados com o escândalo da Fifa, que provocou um terremoto no futebol e, por tabela, na CBF, senadores se articularam para criar a CPI da CBF. Romário saiu na frente e deve ser o relator. Por outro lado, a bancada da bola se inscreveu em peso para integrar a CPI para sair em defesa de Del Nero e dos cartolas que serão investigados.
Clubes divididos
Acostumados com o cobertor da CBF e das federações estaduais, a maioria dos presidentes dos clubes não sabe que rumo tomar. Muitos deles recebem adiantamentos das cotas de televisão administradas pelas federações. O projeto de criação de uma liga independente ganha força entre clubes que não estão pendurados na CBF e federações. Com a liga, os clubes passariam a administrar os campeonatos, deixando à CBF a gestão da Seleção Brasileira.
Com direito a um “mensalinho” pago pela CBF, em valores que passam de 50 mil reais, a maioria das federações está nas mãos da CBF. Presidentes costumam fazer dessas entidades verdadeiros feudos familiares.
Dona dos direitos de transmissão dos principais campeonatos, a Globo passou a negociar diretamente com os clubes pagando a cada um de acordo com seus índices de audiência. Essa prática tem gerado descontentamento entre os clubes. (AE)