Sábado, 14 de junho de 2025
Por Redação O Sul | 26 de julho de 2023
Estudo realizado por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em parceria com cientistas da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), concluiu que adultos brasileiros que possuem esteatose hepática, popularmente chamada de gordura no fígado, têm 30% mais risco de desenvolverem diabete tipo 2.
Os resultados têm como base o estudo chamado ELSABrasil (Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto), que avaliou 8.166 adultos (servidores públicos ou aposentados), com idades entre 35 e 74 anos, de seis capitais do Brasil. Os voluntários foram seguidos por 3,8 anos e houve exclusão dos participantes com diabete no início do estudo, aqueles que relataram consumo excessivo de álcool com hepatite ou cirrose. Os resultados foram publicados nos Cadernos de Saúde Pública.
A esteatose hepática é o acúmulo de gordura no fígado que pode, com o passar do tempo, causar uma inflamação crônica e danos no tecido hepático. Normalmente é uma situação benigna, mas sem cuidados e na sua evolução pode induzir à fibrose do fígado (substituição das células normais do fígado por tecido fibroso) e até evoluir para cirrose, inclusive com aumento de risco de câncer. Estima-se que o problema atinja ao menos 25% da população adulta – na amostra avaliada, a esteatose estava presente em 35,5% dos voluntários.
Repercussão
Segundo a hepatologista Bianca Della Guardia, coordenadora do Grupo Médico Assistencial de Doenças Hepáticas do Hospital Israelita Albert Einstein, esse tipo de estudo é muito importante porque no Brasil não há muitas pesquisas que avaliem a incidência e a prevalência da doença na nossa população. “Nós imaginávamos uma incidência maior de esteatose no Brasil por questões genéticas que podem estar relacionadas. Mas esse número é preocupante porque quando falamos da doença hepática gordurosa não alcoólica estamos fazendo uma associação com a síndrome metabólica”, diz Bianca.
A ultrassonografia abdominal foi o exame usado para a detecção da esteatose hepática, mas o diagnóstico também pode ser feito por outros exames de imagem, como tomografia e ressonância magnética, além de biópsia do fígado. No período de seguimento, a incidência de diabete foi de 5,25% em todo o grupo de participantes, sendo de 7,83% entre as pessoas com esteatose hepática e de 3,88% naqueles sem a esteatose. Isso significa um risco aumentado de 30% de desenvolver diabete.
Como tratar
Uma vez constatado o problema, é preciso tratar imediatamente. “É muito importante tratarmos essa inflamação precocemente para evitarmos a evolução para um quadro de falência hepática mais grave. O exercício físico é determinante para a diminuição da gordura visceral. Se nós tratamos o excesso de gordura (a adiposidade), conseguimos segurar a evolução dessa inflamação”, afirma Clayton Macedo, que coordena o Núcleo de Endocrinologia do Exercício e do Esporte do Hospital Israelita Albert Einstein e o ambulatório de Endocrinologia do Esporte da Federal de São Paulo (Unifesp).
Macedo ressaltou que os indivíduos avaliados tinham circunferência abdominal aumentada (que também é um fator de risco para diabete), eram mais obesos, tinham mais dislipidemias e mais hipertensão. “Quem tem esteatose provavelmente tem mais mecanismos de resistência à insulina, às vezes até alterações de outros fatores de risco, o que coabita o cenário de predisposição à diabete.”