Domingo, 15 de junho de 2025
Por Redação O Sul | 16 de abril de 2016
O novo fenômeno de cubanos que vão ao exterior ajuda na abertura da ilha. Nunca tantos deles viajaram para outras nações, seja por trabalho, turismo ou parcerias. Na volta, trazem novidades que, aos poucos, contribuem com a incipiente globalização do país. O acesso à informação e à realidade de outras sociedades ajuda a criar um grupo mais crítico de cidadãos.
Esse fenômeno se soma aos pontos de Wi-Fi, que há um ano começam a trazer o mundo para dentro de Cuba. As restrições contra as viagens começaram a ser abrandadas há dois anos e, apesar do crescimento, ainda persistem. Nem todos os cubanos podem sair da ilha. Só quem consegue passaporte. Militares, por exemplo, não podem, e quem está ligado à oposição enfrenta dificuldades. Porém, um número maior de cubanos consegue passaporte e dinheiro para viajar. E este grupo passa a ter acesso a mais informações.
“Nunca vi tantos cubanos viajando ao exterior, apesar de não existir um número claro de quantos são os turistas. Meu irmão viajou pela primeira vez ao México no mês passado e ficou maravilhado. Os cubanos sempre se interessaram em conhecer o mundo, e isso é importante para Cuba”, afirmou o comediante Roberto Riverón, que a cada 45 dias, em média, vai a Miami (EUA) e é dono de um bar cubano. “Viajar ajuda a abrir a cabeça das pessoas e facilita que tenhamos negócios e serviços com padrão internacional, como tento aplicar no meu bar.”
Acesso melhor à informação.
As viagens têm ajudado na abertura da ilha. Riverón lembra que antes as pessoas só tinham como fonte de informação o governo cubano. Agora há a internet, o relato das pessoas que foram para fora e o paquete: serviço de TV offline que, por 2 CUCs semanais (cerca de 8,60 reais), fornece programação de TV internacional gravada em um HD ou em um pendrive. O esquema inclui milhares de pessoas e conta com a vista grossa do governo. Com o paquete, os cubanos podem ter acesso a praticamente todos os filmes, shows e programas da TV mundial.
Dados de 2014 mostram que o número de cubanos viajando para o exterior cresceu 35% em relação ao ano anterior. Os principais destinos são Miami, México e Espanha. Quem viaja estima que o movimento é irreversível. “É como uma bola de neve, pode pará-la, mas não dá para fazê-la voltar morro acima”, disse Riverón.
Em geral, os cubanos preferem ir para Miami, onde têm parentes, e à Europa. Os EUA fascinam por serem um “país proibido” por muito tempo. A hospedagem na casa da família facilita a viagem, que apenas de passagem pode custar 400 dólares, caro por um voo de menos de uma hora e inacessível à imensa maioria.
Médicos no exterior.
A flexibilidade com o turismo se soma às facilidades criadas pela Espanha para a obtenção de cidadania. Outra forma de acesso ao exterior são as missões médicas de cubanos. Milhares de profissionais já viajaram a países como Brasil, Peru, Venezuela, Bolívia e a nações africanas. Em alguns casos, os cubanos voltam para casa com uma poupança que utilizam para reformar a casa, abrir um pequeno negócio ou sair novamente de férias.
Outros, contudo, lembram que as comparações não são sempre negativas para Cuba. Quando visitam parentes em Miami, por exemplo, alguns não têm vontade de ficar, pois contam com acesso à habitação e à educação na ilha, inexistente nos EUA.
Mas se, por um lado, a liberalização das viagens permite a alguns cubanos ter uma visão mais correta de outras nações, por outro, escancaram a crescente desigualdade que surge na ilha com as transformações capitalistas. Parte dos habitantes se ressente de não participar dessa leva de mudanças, principalmente por não ter recursos. (AG)
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