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Por Redação O Sul | 28 de outubro de 2017
Não é a apenas a popularidade do presidente Michel Temer que está em queda. O peemedebista tem, aos poucos, perdido apoio no Congresso e contabilizando cada vez menos votos em sessões que discutem projetos de interesse do governo, ainda que continue contando com um apoio relevante entre deputados e senadores.
Na última quarta-feira, o chefe do Executivo novamente conseguiu escapar de responder a um processo no STF (Supremo Tribunal Federal) no exercício do mandato por 251 votos a 233. Na primeira denúncia, havia vencido por 263 a 227.
Apesar de a diferença relativamente pequena entre a primeira votação, que aconteceu em agosto, e a de outubro, analistas ouvidos pela BBC Brasil acreditam que a tendência é que Temer comece a ver sua base encolher à medida que a eleição de 2018 se aproxime.
Tudo indica que o peemedebista começa a enfrentar um fenômeno chamado “lame duck”, ou “pato manco”. Trata-se de um político em fim de mandato, enfraquecido e com popularidade muito baixa, considerado praticamente “uma carta fora do baralho” do jogo político. “Ele está entrando nessa fase um pouco cedo”, observa cientista político David Fleischer, professor da UnB (Universidade de Brasília).
Fleischer observa que a tendência é que deputados e senadores comecem, a partir de agora, a se afastar de Temer, e isso significa que antigos aliados podem começar a votar contra os interesses do governo. “Os parlamentares ficam apreensivos com a eleição. Acham que estar ao lado de um presidente impopular pode diminuir suas próprias chances de vitória”, explica. “Vão se distanciar do presidente para tentar garantir sua própria salvação.”
A perda de apoio, contudo, não representa necessariamente uma ameaça à continuidade de Temer no comando do governo. O professor Francisco Panizza, da universidade britânica London School of Economics, avalia que uma nova mudança na Presidência neste momento seria ainda mais traumática do que foi o impeachment da presidente Dilma Rousseff, em 2016.
“Apesar de Temer estar enfraquecido, não há interesse do sistema político em tirá-lo do cargo”, afirma Panizza, que também vê uma tendência de ver os políticos cada vez mais se afastando do presidente. “Vão continuar jogando esse jogo de mantê-lo e ao mesmo tempo dando menos apoio, em especial porque a popularidade dele está muito baixa entre os cidadãos”, avalia.
Reformas
Esse movimento deve impactar, por exemplo, a votação da Reforma da Previdência, proposta extremamente impopular que exige 308 votos para ser aprovada na Câmara. “No caso das mudanças no sistema de aposentadorias e pensões, Temer terá condições de fazer passar apenas uma microrreforma”, prevê David Fleisher. “Se passar, serão mudanças diluídas, apesar de consideradas essenciais pelo governo para reduzir o déficit público a longo prazo.
Mas, ainda que sua base esteja encolhendo aos poucos, o presidente ainda conta com apoio suficiente para fazer passar alguns projetos de interesse do governo, em especial aqueles em que não são necessários votos de uma maioria qualificada.
Os analistas apontam para a disparidade entre o que acontece no Congresso Nacional e nas ruas, onde apenas 3% dos brasileiros aprovam o governo Temer, segundo pesquisa feita em setembro pela CNI (Confederação Nacional da Indústria) em parceria com o Ibope.
Os deputados mais próximos do presidente, contudo, continuam dizendo que Temer não está fragilizado. Afirmam ainda que a diferença de votos no placar entre as análises da primeira e a segunda denúncias foi residual. “Quem resiste a cinco meses de ataques sórdidos, a conspirações e ainda se mantém no cargo sai é fortalecido”, diz Carlos Marun (PMDB-RS). Temer perdeu oito votos, se comparada a análise das denúncias pelo plenário da Câmara.