Sexta-feira, 23 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 19 de fevereiro de 2023
A Alemanha enfrenta uma enorme crise de refugiados, já que uma enxurrada de ucranianos tem chegado ao país em busca de segurança. Segundo autoridades, a escala da crise é ainda maior do que a de 2015-2016, quando quase 1 milhão de pessoas procuraram asilo na maior economia da Europa.
“O problema atualmente é maior do que durante o pico de 2016”, disse Reinhard Sager, chefe da Associação dos Distritos Alemães, ao explicar que os ucranianos que chegam se somam ao muitos imigrantes de outros países e daqueles que vieram na onda se 2015-2016.
“O clima no país ameaça piorar”, disse Peter Beuth, ministro do Interior do Estado de Hesse. Ele pediu a Berlim que faça mais para reduzir o número de migrantes, acelerando a deportação para seus países de origem dos que têm seus pedidos de asilo rejeitados.
As advertências foram feitas no encerramento de uma cúpula sobre refugiados em Berlim, convocada para tratar do número crescente de pedidos de ajuda de vilas e cidades de todo o país – pressionadas pelo fluxo de migrantes.
A reunião foi realizada depois que a agência federal de estatísticas divulgou dados que mostram que a imigração líquida da Ucrânia em 2022 foi maior do que a de Síria, Afeganistão e Iraque entre 2014 e 2016 – o auge da crise dos refugiados.
“A guerra criminosa de Putin deflagrou o maior movimento de refugiados no centro da Europa desde a 2ª Guerra”, disse a ministra alemã do Interior, Nancy Faeser, que convocou a reunião. Ela acrescentou que as negociações para uma ajuda financeira extra a municípios em dificuldade para lidar com o fluxo de migrantes ocorreriam até a Páscoa.
As comparações com 2015-2016 causarão calafrios pelos corredores do poder em Berlim e podem representar um enorme desafio para o premiê Olaf Scholz.
A chegada de centenas de milhares de refugiados do Oriente Médio e do norte da África em meados da década passada provocou uma das maiores crises políticas do governo de sua antecessora, Angela Merkel, estremeceu as relações entre a Alemanha e seus vizinhos europeus e alimentou a ascensão do Alternativa para a Alemanha (AfD – o partido de extrema direita mais bem-sucedido do país desde a 2ª Guerra.
O ministro do Interior da cidade-Estado de Hamburgo, Andy Grote, disse que o problema da Alemanha não se resumia apenas a ter de abrigar 1 milhão de foragidos da guerra na Ucrânia. “Continuamos a observar um grande fluxo de pessoas de muitos outros países que também pedem asilo.”
Segundo a agência federal de estatísticas, cerca de 1,1 milhão de ucranianos foram para a Alemanha no ano passado, embora alguns tenham voltado para casa desde então. A agência informou que atualmente a Alemanha abriga 962 mil ucranianos, um número líquido bastante superior ao dos 834 mil refugiados de Síria, Afeganistão e Iraque recebidos entre 2014 e 2016. E no ano passado cerca de 218 mil pessoas solicitaram asilo formalmente à Alemanha – maior número de pedidos desde 2016.
A ministra do Interior defendeu uma distribuição mais equitativa dos refugiados ucranianos por toda a União Europeia – Faeser disse que a Polônia recebeu 1,5 milhão de ucranianos, a Alemanha 1 milhão e a Espanha apenas 150 mil. “As coisas não podem continuar assim.” Líderes regionais reclamam há meses que chegaram ao limite de sua capacidade de absorver os recém-chegados. “A pressão é considerável e só faz crescer a cada dia e semana que passa”, afirmou Sager. “As acomodações são limitadas e não há um número suficiente de trabalhadores de tempo integral e voluntários disponíveis” para lidar com o fluxo. “O governo local precisa de ajuda urgentemente.”
Faeser contou que o governo federal forneceu às regiões 3,5 bilhões de euros adicionais no ano passado para abrigar e integrar refugiados e também acertou o repasse de € 2,75 bilhões este ano. Além disso, segundo ela, o governo disponibilizou propriedades federais que podiam ser usadas para abrigar 70 mil migrantes e ao mesmo tempo estava no processo de identificar outros locais livres e adequados para a instalação de “aldeias contêineres”, que usam casas pré-fabricadas a partir de contêineres.
Mas os líderes das comunidades se mostraram desapontados com o fato de Faeser ter se recusado a liberar mais dinheiro para as regiões. “Nós não só não progredimos hoje, como o governo federal deixou claro que não está preparado para nos ajudar”, disse Sager. Ele acrescentou que vários programas de apoio a refugiados financiados por Berlim já expiraram.