Terça-feira, 23 de abril de 2024
Por Redação O Sul | 14 de junho de 2021
Na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) desta semana, marcada para esta terça (15) e quarta-feira (16), o Banco Central (BC) deverá elevar a taxa básica da economia (Selic), dos atuais 3,5% para 4,25%, conforme as previsões do mercado e a própria sinalização do BC.
Contudo, com a disparada recente do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subindo 0,83% em maio — a maior taxa para o mês em 25 anos — as previsões recentes admitem que a inflação oficial poderá fechar o ano perto de 7%. Analistas apostam que o BC ficará mais rigoroso e não interromperá o ciclo de alta dos juros, iniciado em março, como vinha prometendo.
As previsões para a inflação de 2022 também estão sendo corrigidas para cima e ficam cada vez mais próximas do teto de 5% do ano que vem. Resta saber como a instituição monetária vai fazer esse comunicado para o mercado na semana que vem, pois o BC vinha insistindo na tese de que o choque de preços era temporário.
Solange Srour, economista-chefe do Credit Suisse no Brasil, aposta que os integrantes do Copom devem abandonar o discurso de inflação temporária e da estratégia de normalização parcial da taxa de juros, que vinha insistindo nas reuniões anteriores. “Mas eles não devem mudar o discurso de imediato. Pode ser que passem a reconhecer que a normalização parcial não é um compromisso”, aposta ela que, desde março, vinha apostando que a Selic encerrará o ano em 6,5%, no limite para a taxa de juros neutra prevista pelo mercado.
“A inflação está muito elevada devido à inércia, provocada enquanto o discurso for esse de que os choques nos preços são temporários. Cabe ao BC apresentar um cenário básico de que a política monetária continuará estimulativa. Mas o IPCA de maio mais forte é um número que poderá fazer com que o BC comece a mudar o discurso aos poucos, porque ele vai precisar se preocupar mais com a inflação do ano que vem. As estimativas já estão subindo e encostando no teto da meta”, acrescenta.
Pelas novas projeções do Credit Suisse, o IPCA deverá encerrar o 2021 em 6,3%, passando para 4,5%, em 2022, com o PIB crescendo 5,5%, neste ano, e depois desacelerando para 2,5% no ano que vem. “Parece que o BC está mais propenso em manter uma política estimulativa neste ano, mas, diante da alta da inflação, mantê-la será mais desafiador”, afirma Solange Srour. Segundo ela, os riscos da inflação em 2022 permanecem elevados em função da inércia e da provável alta dos preços de energia que deverão continuar lá em cima por conta da crise hídrica.
A analista ainda alerta para outros riscos que não podem ser ignorados, como uma terceira onda da pandemia. “O número diário de casos e internações manteve-se elevado no país, enquanto a mobilidade social segue uma tendência de alta que pode desencadear outra onda de infecções, como ocorreu no Chile, onde o percentual da população vacinada ainda não foi suficiente para aliviar a pandemia”, destaca.
“Apesar de o risco de uma terceira onda de infecções ser elevado, acreditamos que seu impacto sobre a atividade econômica seria mínimo, e que o efeito mais negativo poderia cair nas contas públicas como resultado de maiores benefícios sociais e incentivos setoriais”, completa.
Questão fiscal
Um consenso entre os especialistas é de que o Brasil não pode se dar ao luxo de conviver com preços em forte alta, dado o histórico de hiperinflação da década de 1980 e o quadro fiscal ainda muito frágil. As contas do governo federal estão no vermelho desde 2014 e a dívida pública bruta do País é muito elevada se comparada com a média de países emergentes — de 60% do Produto Interno Bruto (PIB).
Luis Otávio de Souza Leal, economista-chefe do Banco Alfa, avalia que, se tudo correr bem, “a sensação de crescimento com a reabertura da economia vai acontecer ao mesmo tempo em que a inflação vai estar em desaceleração”. “Basta ver se o governo vai saber capitalizar isso”, frisa.
Ele, contudo, também demonstra preocupação com a questão fiscal, já que o presidente Jair Bolsonaro poderá gastar mais no ano que vem.
“Tudo vai depender de onde ele vai gastar mais. Se for com obras, que é gasto discricionário, não tem problema ou mesmo com um Bolsa Família turbinado, porque é híbrido. O problema é se for com aumentos de salários que são gastos obrigatórios.”