Quinta-feira, 05 de junho de 2025
Por Redação O Sul | 3 de junho de 2025
Aumenta a tensão em alas da direita e do bolsonarismo que se preparam para a eleição presidencial de 2026, em meio à resistência do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em indicar um sucessor e aos entraves para uma candidatura unificada contra Luiz Inácio Lula da Silva, que deve tentar a reeleição. A movimentação do deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que passou a se colocar abertamente como presidenciável, tornou o quadro mais complexo e acendeu o alerta de pulverização no primeiro turno, avaliam dirigentes partidários e articuladores políticos.
As divergências se acentuaram nas últimas semanas, com Bolsonaro e seu entorno protestando contra a exclusão de seu nome de articulações que envolvem cinco governadores cotados para concorrer ao Planalto: Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), Ronaldo Caiado (União Brasil-GO), Ratinho Junior (PSD-PR), Romeu Zema (Novo-MG) e Eduardo Leite (PSD-RS). Mesmo inelegível até 2030 por decisão do Tribunal Superior Eleitoral, Bolsonaro insiste em se dizer no jogo, promete se registrar como candidato e afirma que “só depois de morto” vai ungir um herdeiro político. Um interlocutor do ex-presidente diz que “não saiu da cabeça dele que ele pode ser o candidato”.
Apesar da expectativa em torno de Tarcísio, aliados de Bolsonaro afirmam em conversas reservadas que o ex-presidente tende a depositar maior confiança em alguém da família para a estratégia prevista até aqui. O plano é colocar um parente na vice para substituir Bolsonaro na cabeça de chapa, se o registro for negado pela Justiça Eleitoral. Foi o que Lula, preso, fez com Fernando Haddad (PT) em 2018.
A ex-primeira-dama Michelle é citada como opção, mas o nome de Eduardo vem ganhando força. Licenciado do mandato e morando nos Estados Unidos desde fevereiro, o parlamentar divulgou vídeo no domingo (1º) com uma proposta de “reconciliação nacional” e afirmando que o Brasil precisa se “reencontrar enquanto nação”. No vídeo, Eduardo Bolsonaro elogia aspectos dos governos de Getúlio Vargas, Juscelino Kubitscheck e João Goulart. Também menciona de forma positiva o período imperial, a República Velha e o regime militar. Não há menção aos presidentes depois da redemocratização.
Em entrevista à revista “Veja”, Eduardo Bolsonaro admitiu disposição de concorrer à Presidência, se essa for “uma missão” dada por seu pai. O deputado, antes mencionado como candidato ao Senado por São Paulo, tem conseguido projeção no bolsonarismo por suas articulações com o governo do americano Donald Trump para constranger o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Moraes conduz o julgamento de Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado no Brasil.
Arranjo
Políticos envolvidos nas tratativas de 2026, falando sob reserva, dizem que está longe de haver unanimidade para adesão a um arranjo que gire em torno dos interesses da família Bolsonaro. Afirmam ainda que o prazo para o encaminhamento da oposição a Lula começa a se afunilar.
Emissários sugeriram ao ex-presidente que tome uma decisão até o fim do ano. No entanto, vem se consolidando a impressão de que ele estenderá a incerteza até o limite. O mês para registro das candidaturas é agosto de 2026, mas governadores precisam renunciar ao cargo em abril se quiserem disputar o Planalto.
Tarcísio
Tarcísio, que dos cinco é o mais próximo de Bolsonaro, mantém uma postura de fidelidade ao ex-presidente e evita se colocar como opção, sustentando que buscará a reeleição no Estado. Ao mesmo tempo, dialoga com o campo maior da centrodireita, o que desagrada ao círculo próximo de Bolsonaro, especialmente por sua relação com o presidente do PSD, Gilberto Kassab.
Na sexta-feira (30), o governador, que foi ministro da Infraestrutura no governo Bolsonaro, depôs como testemunha de defesa dele no STF e disse que ele “jamais mencionou” tentativa de golpe. Dias antes, declarou que “não existe” direita sem o ex-presidente.
O discurso de tom nacional exibido pelo governador em eventos fora do Brasil é visto no núcleo do ex-presidente como indicativo de que ele miraria voos mais altos. Um aliado de Tarcísio diz, porém, que ele jamais dará qualquer passo que possa lhe render o carimbo de traidor. A avaliação é que ele não descarta um dia concorrer a presidente, mas também não tem urgência para isso. (Com informações do Valor Econômico)