Quarta-feira, 01 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 27 de setembro de 2025
Após forte crescimento entre setembro de 2024 até maio deste ano, os preços da alimentação no domicílio recuam desde junho, na variação mensal. A sensação dos consumidores brasileiros em relação ao preço dos alimentos melhorou no decorrer dos últimos três meses e segundo pesquisas do período, favoreceu a recuperação da popularidade do presidente Lula. Nos Estados Unidos, ao contrário, a alta no preço dos alimentos vem se acelerando e pesquisas indicam que isso se tornou fonte maior de preocupação para os americanos.
Para os próximos meses e para 2026, ano de eleições presidenciais no Brasil, porém, o risco de aceleração de preços na alimentação em casa é maior para os brasileiros do que para os americanos.
A conclusão é de estudo do economista Francisco Pessoa Faria, pesquisador associado do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre).
Os dois países, ressalta, possuem especificidades para a métrica da inflação da alimentação no domicílio, pondera, mas os riscos maiores de aceleração nos preços no Brasil se devem a maiores chances de desvalorização do real frente ao dólar em 2026, à forte volatilidade dos preços dos vegetais in natura, que tem contribuído para o alívio da inflação, e à tendência de maior pressão nos preços da carne, dado o ciclo de abate dos bovinos.
“Os preços dos alimentos no domicílio pesam em geral na população mais pobre, que é a maior parte da população. São preços que pegam na popularidade em todos os países. Podemos até pensar que o Lula está bem, porque a picanha teve um repique (de preço), mas está melhor do que foi, e que Trump (Donald, presidente dos EUA) não está bem. Na verdade, em termos políticos, quem deveria estar preocupado com o futuro, pela questão do preço da comida, é muito mais Lula do que Trump”, diz Faria.
Na última semana, o vice-presidente Geraldo Alckmin observou que na eleição para presidente o que pesa é a satisfação das pessoas nos últimos seis meses que antecedem a eleição. “Isso é do mundo inteiro. O que pesa é economia. Então é importante controle da inflação e emprego.”
O impacto dos preços dos alimentos nos “sentimentos” dos consumidores, ressalta Faria, foi refletida em pesquisas realizadas tanto no Brasil quanto nos EUA nos últimos meses. Segundo levantamento de julho da Associated Press, o custo dos alimentos em mercados é a fonte de maior preocupação dos cidadãos americanos – esse item foi considerado fonte importante de estresse para 53% dos entrevistados.
No Brasil, aponta Faria, pesquisa da Quaest revelou que a porcentagem de pessoas que afirmam ter havido aumento de preços dos alimentos no último mês recuou para o menor valor desde dezembro de 2023. Após ter ficado em trajetória ascendente desde outubro de 2024, o percentual atingiu 88% em abril e desde então vem caindo, chegando a 60% em agosto.
Ainda segundo a pesquisa, destaca Faria, ao lado da reação ao tarifaço americano, o relativo alívio em relação à percepção dos preços dos alimentos foi um dos fatores que explicam uma certa recuperação da popularidade do presidente Lula.
Dados do IBGE mostram que em agosto houve queda de 0,83% no preço da alimentação no domicílio dentro do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Foi a terceira deflação mensal do grupo, após quedas de 0,69% em julho e de 0,43% em junho. Em maio houve praticamente estabilidade, com alta de 0,02%. O IPCA-15, prévia do IPCA cheio, indica que em setembro a alimentação em casa teve o quarto recuo consecutivo, com deflação de 0,63%, ante 1,02% em agosto.
Faria observa que os indicadores para preços de alimentos no Brasil e nos EUA têm níveis muito diferentes. O aumento de preços acumulado em 12 meses até agosto na alimentação no domicílio no Brasil foi de 7% enquanto nos EUA foi de 2,6%. Mas uma trajetória dos dois indicadores considerando como base 100 o mês agosto de 2024, diz, permite uma comparação mais clara do comportamento distinto dos preços da alimentação no período mais recente.
Os preços da alimentação no domicílio no Brasil estavam em abril 9,1% acima dos de agosto de 2024. Em agosto de 2025, essa alta cedeu 2,1 pontos percentuais (p.p.), para 7%. Nos EUA, os preços estavam em abril 1,7% mais alto que em agosto de 2024. A taxa se acelerou para os 2,6% no mês passado, sempre mantendo agosto de 2024 como base de comparação. (Com informações do Valor Econômico)