Domingo, 25 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 24 de maio de 2025
A relação entre Ministério da Fazenda e o Banco Central, marcada no começo do ano por um clima pacífico — em contraste com a beligerância do governo Lula (PT) com a gestão de Roberto Campos Neto—, dá sinais agora de fim da lua de mel entre Gabriel Galípolo e Fernando Haddad.
Às diferenças de visão sobre o efeito do patamar dos juros na economia, que já produzem mal-estar nos bastidores, se somam o incômodo com o anúncio do decreto de alta do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) nas operações de crédito, câmbio e seguro.
O episódio revelou publicamente um desalinhamento de estratégia, após a promessa de uma ação harmônica da política econômica do Ministério da Fazenda e do BC.
Galípolo deixou claro publicamente que não foi informado da decisão, como também se manifestou de forma contrária à medida. O clima entre os dois esquentou nos bastidores com cobranças dos dois lados.
O desconforto na relação começou a ser sentido já em dezembro. Uma reunião no fim do ano entre Fazenda e BC, descrita como tensa e duríssima, é considerada o início do que passou a ser entendido como um distanciamento entre as duas partes.
Naquele momento foram discutidas medidas para elevação do IOF. De acordo com um observador, houve pressão da maioria dos secretários de Haddad para que Galípolo, contrário à ideia, aceitasse as mudanças.
Ruído na comunicação
Nessa semana, logo após o anúncio de elevação no IOF, Galípolo demonstrou ao Ministério da Fazenda incômodo pelo fato de auxiliares de Haddad terem dito que o presidente da autoridade monetária estava ciente da iniciativa. A medida estava repercutindo mal no mercado financeiro, que apontava para o risco de a decisão ser interpretada como controle de capital.
O ministro, ao tomar ciência do desconforto, ligou ao chefe do BC para entender qual era o incômodo, e em seguida publicou em rede social que Galípolo não havia sido avisado das medidas —contrariando o que havia dito horas antes o secretário-executivo da Fazenda, Dario Durigan. A explicação oficial da Fazenda para a aparente diferença nas versões é que havia troca de informações gerais sobre as medidas a serem tomadas, mas não de forma detalhada sobre o aumento do IOF.
De acordo com um interlocutor do Ministério da Fazenda, Galípolo foi ouvido quanto a possíveis mudanças de IOF apenas no momento da elaboração do projeto do Imposto de Renda —antes mesmo de ele assumir a presidência da autoridade monetária. O plano em discussão versava sobre a taxação no câmbio em casos de remessas de dividendos para o exterior.
A ideia acabou sendo descartada na época, diante do temor de que a medida poderia significar controle de capital, o mesmo motivo que levou ao recuo no IOF nessa semana.
Alertas do mercado
Na quinta (22), Galípolo também repassou à Fazenda —logo após o anúncio do aumento do IOF— os alertas que recebeu de agentes financeiros, que em parte também comunicaram as preocupações diretamente a Haddad. O governo então decidiu recuar de parte das medidas.
“Minha antipatia, resistência, não gostar da ideia de você utilizar a alíquota de IOF como expediente para você tentar perseguir a meta fiscal decorre justamente desse receio [no mercado]”, declarou Galípolo em evento na sexta.
O mal-estar entre Fazenda e BC também já esteve presente nas discussões sobre como o atual patamar da taxa básica de juros, a Selic, está impactando a economia.
Em fevereiro, a subsecretária de Política Macroeconômica da Fazenda, Raquel Nadal, afirmou que, ainda que Galípolo não visse com certeza uma desaceleração econômica, a própria autoridade monetária já estaria contemplando esse cenário ao estimar para 2025 um crescimento de 2%. A declaração não foi bem recebida no BC. Com informações da Folha de São Paulo.