Segunda-feira, 05 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 19 de abril de 2022
As famílias de alguns participantes do estudo disseram que veem melhorias.
Foto: ReproduçãoUma pequena empresa de biotecnologia que anunciou um novo tratamento para a doença de Alzheimer agora está sendo criticada por irregularidades em seus resultados de pesquisa, depois que vários estudos relacionados ao seu trabalho foram retirados ou questionados por revistas científicas.
A Cassava Sciences, com sede em Austin, Texas (EUA) anunciou em 2021 que seu medicamento, Simufilam, melhorou a cognição em pacientes de Alzheimer em um pequeno ensaio clínico, descrevendo esse resultado como o primeiro avanço no tratamento da doença. Mais tarde, a empresa iniciou um ensaio maior.
O potencial da droga atraiu enorme atenção dos investidores. A doença de Alzheimer afeta cerca de 6 milhões de norte-americanos, um número que deve dobrar até 2050, e um tratamento eficaz seria lucrativo. As ações da Cassava Sciences chegaram a subir mais de 1.500%. A empresa valia quase US$ 5 bilhões (cerca de R$ 23 bilhões) no verão passado.
Mas muitos cientistas têm sido profundamente céticos em relação às alegações da empresa, afirmando que os estudos da Cassava Sciences eram falhos, seus métodos opacos e resultados improváveis.
As famílias de alguns participantes do estudo disseram que veem melhorias. Mas os críticos notaram que o estudo relatando melhor cognição devido ao Simufilam não tinha um grupo placebo e afirmaram que os pacientes de Alzheimer não foram acompanhados por tempo suficiente para confirmar que quaisquer melhorias na cognição eram genuínas. Alguns especialistas foram mais longe, acusando a empresa de manipular seus resultados científicos.
Em resposta às alegações, em dezembro, o The Journal of Neuroscience publicou “expressões de preocupação” – o que indica que os editores têm motivos para questionar a integridade e precisão do artigo – sobre dois estudos cerebrais de autoria do principal colaborador da empresa, Hoau-Yan Wang, professor da City University of New York. Um foi co-escrito por Lindsay Burns, cientista-chefe da Cassava Sciences. Os editores da revista também notaram erros nas imagens que acompanham o último estudo.
Em março, a revista Neurobiology of Aging anexou uma expressão de preocupação a outra publicação sobre Alzheimer de autoria de Wang e Burns, entre outros, que tem sido fundamental para a hipótese de tratamento da empresa. Os editores “não encontraram evidências convincentes de manipulação de dados com a intenção de deturpar os resultados”, mas passaram a listar uma variedade de erros metodológicos. Ambas as revistas disseram que esperariam para tomar outras medidas enquanto aguardam uma investigação do empregador de Wang, a CUNY.
Em 30 de março, outra revista científica, PLoS One, retirou cinco artigos de Wang após uma investigação de cinco meses sobre “sérias preocupações sobre a integridade e confiabilidade dos resultados”, segundo um porta-voz da revista. Dois dos artigos, co-escritos por Burns, eram sobre uma proteína cerebral alvo da droga da Cassava Sciences.
O fundador e CEO da Cassava Sciences, Remi Barbier, disse que muitos de seus críticos eram “maus atores” com conflitos de interesse financeiros. Ele disse que as alegações de manipulação de dados eram falsas e observou que algumas foram divulgadas sob sigilo, tentando reduzir o preço das ações da empresa para lucrar.
“Eles foram e continuam indo a extremos irreais para impedir nosso progresso”, escreveu Barbier em um e-mail. “O esforço para manchar a Cassava Sciences parece interminável.”
A Cassava é nova na pesquisa de Alzheimer. Até 2019, chamava-se Pain Therapeutics, e seu produto Remoxy – uma forma de gel do opioide oxicodona que se destinava a impedir o abuso de drogas – era o favorito entre os investidores. Mas a Food and Drug Administration (FDA), a agência reguladora de saúde nos Estados Unidos, repetidamente rejeitou o medicamento e repreendeu a empresa por promover o Remoxy antes da aprovação.